A maternidade é desafiadora para a maioria das mulheres, afinal, em 9 meses tudo muda, corpo, ideias, planos, inseguranças e muitas outras questões. Mas já imaginou passar por essas mudanças sozinha? Essa é a realidade de mais de 11 milhões de mulheres no Brasil que criam seus filhos como mãe solo e chefiam o lar.
Os números, tirados de um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia, evidenciam o peso de criar filhos sem a ajuda do progenitor ou de uma rede de apoio. Mostrando, mais uma vez, a importância da não romantização da maternidade.
A mãe solo é a mulher que cria, cuida e educa os filhos sozinha. Ela precisa lidar com as finanças, alimentação, educação, sentimentos e tudo mais que uma criança necessita no dia a dia. Além, é claro, de amor, carinho e proteção.
Muito além disso, a mãe solo é a mulher que precisa lidar com comentários preconceituosos, como o famoso: “Teve filho porque quis e agora fica reclamando”, sente a sobrecarga de não ter com quem contar e acredita, constantemente, que está sendo julgada pela situação.
É importante ressaltar que acreditamos sim que filhos são dádivas, porém, também sabemos dos desafios de tê-los.
A maternidade solo acontece por diversos motivos, desde o abandono do progenitor, escolha da mãe, divorcio ou até a viuvez. Mas em todos os casos a rotina poderá ser igualmente árdua.
E o que dizer do estigma que cerca a situação e ainda hoje é normal ouvir pessoas chamando mulheres de mãe solteira ao se referir a uma mulher que lida com a maternidade solo.
As situações não se comunicam, posto que solteira é estado civil e uma mãe solteira pode ter a ajuda do pai da criança no dia a dia, não sendo considerada uma mãe solo.
Já a mãe solo não precisa ser solteira, posto que, nos deparamos com casos em que algumas mulheres vivem a solidão da maternidade mesmo estando em um relacionamento sério.
Na prática, uma mulher que vive a maternidade solo desempenha muito mais que a função de mãe. Ela precisa trabalhar fora, ser empregada doméstica da casa, auxiliar os filhos com as tarefas da escola, preparar uma alimentação adequada, lidar com as frustrações da criança e as suas, e muito mais.
É importante entender que essas mulheres, vistas como guerreiras, estão apenas sobrecarregadas e cheias de papéis e cobranças.
A mãe solo tem necessidade de contar com uma rede de apoio que contem com pessoas dispostas a auxiliar nas tarefas relacionadas ao desenvolvimento de uma criança.
Não se trata de tomar as dores da mãe ou inseguranças para si, mas estar por perto para segurar a mão dessa mulher e dizer: “As coisas podem não estar indo tão bem, mas você tem com quem contar”.
No entanto o que se verifica nas estatísticas recentes do IBGE é que das mais de 11 milhões mães solos, 72,4% não contam com a ajuda de ninguém, sequer dos familiares e amigos próximos que por vezes ainda lhe atribuem culpa pela situação.
Mãe solo, é normal sentir que você precisa dar conta de tudo. Uma série de fatores te fizeram, inconscientemente, chegar nesta percepção. Mas é importante tentar entender que você não precisa e nem deve segurar o peso do mundo sozinha.
Em março de 2022, o Senado Brasileiro aprovou um projeto de lei que prevê direitos exclusivos para mães solo. Dentre os benefícios, estão cotas, subsídios, atendimento prioritário, assistência social e prioridade para vagas da creche.
Conforme o documento, os direitos serão assegurados por 20 anos e destinados a mães com dependentes de até 18 anos. Se entrar em vigor, a lei poderá auxiliar as responsabilidades financeiras da casa e contribuir com o futuro de inúmeras crianças.
Outro direito existente no país, é a prioridade da mãe solo na fila do projeto Minha Casa, Minha Vida — programa habitacional do Governo Federal que facilita a compra da casa própria.
Você que é mãe solo não se sinta sozinha, procure ajuda com amigas, familiares para auxiliar com seus filhos, seja para buscar na escola, levar ao médico ou até deixar um final de semana com algum parente para que possa descansar e se reenergizar.
E mesmo o pai que está distante e muito à vontade porque tem você assumindo todo o papel de educar o filho, chame para responsabilidade, mesmo que tenha que buscar ajuda na justiça, pois o filho além da necessidade também tem o direito de ter a presença deste pai na sua educação e proteção. Sem medo de ser feliz!
Iacita Azamor Pionti
Advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres