MS Delas

Search
Close this search box.
26°C

MÃES ATÍPICAS

*Resumo do texto de minha autoria que está no livro Ellas

Mãe é mãe. Por que mãe atípica? Para quem não está familiarizado com a expressão, mãe atípica é aquela que lida com a criação de uma pessoa com deficiência.

Além de toda a carga da maternidade por si só, a mãe atípica tem ainda que enfrentar as filas da assistência social, conciliar a sua rotina em casa e/ou no trabalho com as múltiplas terapias para o desenvolvimento do filho, “morar” no hospital por um ou algum período da vida por conta das intervenções cirúrgicas do filho, processar o plano de saúde para garantir o direito ao tratamento, se aproximar de entidades, vereadores e deputados na luta por direitos e inclusão. 

Enfim, a lista é infinita. É importante lembrar que a jornada da mãe atípica não é para levar o filho ao ballet ou inglês. Pode incluir isso também, mas via de regra, falamos especialmente de “maternidade atípica” como o esforço para garantir condições de vida, independência e acessibilidade que aproximem seus filhos das pessoas consideradas típicas.

O termo “maternidade atípica” surgiu para dar visibilidade a luta das mães de pessoas com deficiênciaque vive cotidianamente uma realidade que é muito parecida com a de todas as mães, mas assim como nós mulheres temos a famosa “dupla jornada”, a mãe atípica enfrenta jornada dupla dentro da maternidade. 

Se você for pesquisar no dicionário, vai encontrar lá que típico e atípico podem corresponder a normal e anormal. Então por que este termo? Além da definição de “normalidade” ser muito subjetiva, a expressão vem justamente trabalhar com a ideia de “incomum”, ou “menos frequente”. 

Quando eu uso a expressão “pessoas normais”, estou categorizando as pessoas com deficiência como anormais ou diferentes, o que impõe ainda mais barreiras para a inclusão. 

Dizer que você é normal, reforça uma visão de normalidade restritiva e discriminatória. Promover uma linguagem inclusiva na família, no seu círculo social e em todos os espaços é mais uma das lutas das mães atípicas – mas não precisava. Por isso eu chamo você, que me lê agora, para tornar-se atuante no esforço de educar seus pequenos a promover um mundo mais inclusivo, mais amoroso e plural. 

Nas redes sociais, mães atípicas, que falam sobre o dia a dia de suas famílias e buscam conscientizar sobre o tema, têm usado o espaço também para desabafar sobre esses desafios. 

Na sua grande maioria têm liminares judiciais que deveriam garantir o tratamento para os filhos, mas que não têm sido respeitadas, tais como: suspensão de tratamentos; cancelamentos de contratos;falta de pagamentos para profissionais e clínicas;dificuldade para obter reembolso; oferecimento de terapias sem especialização ou com carga menor que a determinada em laudo médico;profissionais pouco qualificados para atender as demandas específicas da criança.     

E apesar de a mulher ser um portal divino, pois através do ventre materno chegamos à Terra, não podemos insistir em romantizar a maternidade, pois isto é florear a realidade e estipular um ideal que deve ser para todas alcançar. 

Quando nasce um filho também nasce uma mãe e se ele for atípico a mãe também será atípica com a sobrecarga de todas as dificuldades apontadas. 

A mãe e filho estão ligados não somente pelo cordão umbilical, mas também pelo laço etéreo – invisível aos olhos, mas sempre presente.

Que possamos ter mais políticas públicas voltadas para atendimento a essas crianças e suas mães, melhorando a saúde mental  e dando o necessário equilíbrio e a inclusão tão almejada para um mundo mais justo e equânime, sem medo de ser feliz!

Dra. Iacita Azamor Pionti

Advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres

Você também pode gostar...