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Hipertensão: por que os médicos agora consideram a pressão “12 por 8” como elevada

No início de setembro, especialistas de várias partes do mundo se reuniram em Londres, Reino Unido, para participar do Congresso Europeu de Cardiologia, evento de extrema relevância no campo da saúde cardiovascular.

Um dos destaques desse encontro foi a divulgação das novas diretrizes europeias sobre hipertensão arterial, uma atualização fundamental que estabelece novos critérios de diagnóstico e tratamento para uma das doenças mais prevalentes na população mundial: a pressão alta.

Este documento visa simplificar os conceitos de hipertensão, introduzir uma nova categorização dos pacientes e, mais importante, recomendar um tratamento mais intensivo nos primeiros estágios da doença. Isso possibilita a redução dos riscos associados à pressão arterial elevada, especialmente em pessoas com maior risco de doenças cardiovasculares.

O aumento da pressão arterial é um dos principais fatores de risco para doenças graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). A hipertensão afeta milhões de pessoas em todo o mundo e, muitas vezes, é subdiagnosticada e subtratada, o que contribui para um cenário de morbidade e mortalidade elevadas.

Portanto, a nova abordagem das diretrizes europeias reflete o esforço da comunidade médica para promover uma intervenção precoce e mais eficaz no tratamento da hipertensão, ajudando a prevenir complicações graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Novas classificações da pressão arterial: simplificando os diagnósticos

Entre as mudanças mais significativas pelas novas diretrizes está a reformulação das classificações de pressão arterial. Agora, os valores de referência são divididos em três categorias principais:

Estas instruções são feitas em consultórios médicos, sob supervisão de um profissional de saúde, e são uma base para o diagnóstico de pressão alta. Antes da atualização, os especialistas utilizaram um sistema de seis categorias, que incluíam as classificações de “ótimo”, “normal”, “pré-hipertensão”, além de três estágios de hipertensão, variando de acordo com a gravidade da doença.

Os autores das novas diretrizes explicam que a simplificação das classificações e a criação da categoria intermediária “pressão arterial elevada” têm o objetivo de facilitar o diagnóstico precoce e, consequentemente, o início de um tratamento mais eficaz.

Essa mudança é crucial para evitar que os pacientes progridam para estágios mais avançados da hipertensão, que trazem riscos maiores de complicações cardiovasculares.

A nova categoria reconhece que as pessoas não passam de uma pressão arterial normal num dia para a hipertensão no outro justifica Bill McEvoy, professor da Universidade de Galway, na Irlanda, e um dos autores do novo consenso.

Na maioria dos pacientes, há uma mudança gradual e constante [da pressão arterial]. Diferentes subgrupos, como por exemplo, aqueles que apresentam maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares, poderiam se beneficiar de um tratamento mais intensivo antes que a pressão arterial deles atinja o limite tradicional da hipertensão complementa ele, num comunicado divulgado à imprensa

Essa nova abordagem pretende prevenir o aumento dos níveis de pressão arterial antes que a hipertensão se instale de forma irreversível. Isso se torna especialmente importante para pessoas que têm predisposição genética ou fatores de risco adicionais, como obesidade, diabetes, ou histórico familiar de doenças cardíacas.

Os riscos crescentes com a pressão arterial elevada

Outro ponto destacado nas novas diretrizes é o risco que surge mesmo antes dos valores de pressão atingirem os níveis considerados críticos. Rhian Touyz, professor da Universidade McGill, no Canadá, outro autor das diretrizes, explicou que o aumento do risco cardiovascular já começa antes que os níveis sistólicos (o primeiro número da fórmula de pressão) cheguem a 120 mmHg.

Os riscos associados ao aumento da pressão arterial começam quando a pressão sistólica ainda está abaixo de 120 mmHg afirma Touyz

Isso sugere que, em muitos casos, ações preventivas devem ser iniciadas mesmo quando os níveis de pressão arterial estão dentro da faixa que era considerada normal nas classificações anteriores.

As novas diretrizes, portanto, promovem uma mudança de perspectiva, aconselhando os médicos a monitorar com mais atenção os pacientes que estão em risco de desenvolver hipertensão, mesmo que ainda não tenham alcançado os níveis considerados hipertensivos.

Hipertensão: um problema global de saúde pública

A hipertensão arterial é um problema global de saúde pública e, segundo dados apresentados durante o congresso, ela é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC.

No Brasil, essas condições são responsáveis ​​por um número significativo de óbitos a cada ano. De acordo com o médico Fábio Argenta, membro do Conselho de Ética da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a hipertensão é uma das principais causas de morte no país.

As doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil e no mundo. No nosso país, por exemplo, uma pessoa morre a cada 90 segundos por causa de algum problema no coração ou nos vasos sanguíneos estima o médico Fábio Argenta, membro do Conselho de Ética Profissional e do Comitê de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)

Além de estar diretamente associado ao infarto e AVC, a hipertensão também está relacionada a outras condições graves, como insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica, cegueira e até demência. É surpreendente que, apesar de sua gravidade, a hipertensão muitas vezes não receba a atenção adequada.

Isso se deve, em parte, ao fato de que ela é frequentemente assintomática nos estágios iniciais, o que faz com que muitas pessoas não percebam o perigo até que a condição já esteja avançada.

A hipertensão é o principal fator de risco não apenas para infarto e AVC, mas também está relacionada com insuficiência cardíaca, insuficiência renal, cegueira e até demência pontua o especialista

O médico Carlos Alberto Machado, assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), estima que cerca de 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo são hipertensas.

O mais preocupante, no entanto, é que metade dessas pessoas não sabe que possui a condição. Mesmo entre aqueles que foram apresentados, muitos não seguem o tratamento corretamente, o que agrava o problema.

O grande problema é que mais da metade nem sabe que é hipertensa. Entre aquelas que sabem, só metade faz o tratamento. E entre quem faz tratamento, apenas metade tem a pressão controlada resume Machado

Esse cenário destaca a importância das novas diretrizes, que busca alertar a população para os riscos de pressão arterial elevada, mesmo que ainda não tenha atingido níveis alarmantes.

Uma intervenção precoce, com medidas preventivas e tratamento adequado, pode salvar vidas e prevenir complicações graves.

Abordagem preventiva e estratificação de risco

As novas diretrizes também introduzem a ideia de uma abordagem preventiva baseada na estratificação de risco. Para aqueles que se enquadram na categoria de “pressão arterial elevada”, a recomendação é que os médicos avaliem uma série de fatores para determinar a probabilidade de o paciente desenvolver um evento cardiovascular grave, como um infarto ou AVC, nos próximos anos.

As diretrizes de Europa e Brasil costumam andar juntas, então há uma tendência de que a nossa atualização siga pelo mesmo caminho adianta ele

Os fatores considerados na estratificação de risco incluem o histórico de doenças cardíacas, a presença de outras condições crônicas, como diabetes e obesidade, e o estilo de vida do paciente.

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Mudanças no estilo de vida para controle da pressão

As mudanças no estilo de vida são uma parte crucial do controle da pressão arterial. Manter um peso saudável, adotar uma dieta equilibrada, praticar exercícios regularmente, reduzir o consumo de sal, evitar o álcool e parar de fumar são recomendações clássicas que continuam a ser defendidas pelos especialistas.

Além dessas recomendações tradicionais, as novas diretrizes trazem duas novidades importantes. A primeira é a ênfase no aumento do consumo de alimentos ricos em potássio, como frutas e vegetais. O potencial tem um efeito oposto ao sódio, ajudando a reduzir a pressão arterial.

No entanto, os especialistas alertam que o potássio deve ser proveniente de fontes naturais, como frutas e verduras, e não através de suplementos, que podem causar problemas renais em algumas pessoas.

O aumento do consumo de potássio deve ser feito por meio de alimentos naturais, como frutas e verduras, e não por meio de suplementos, especialmente em pessoas com problemas renais ressalta Bortolotto, cardiologista do Instituto do Coração (InCor) 

A segunda novidade é a recomendação de incluir exercícios de resistência, como treinamentos isométricos, na rotina de exercícios físicos. Estudos mostram que esses exercícios, além de fortalecer a massa muscular, também têm um impacto positivo nos vasos sanguíneos, ajudando a controlar a pressão arterial a longo prazo.

Tratamento medicamentoso: intensificação e novos esquemas

Outro destaque das novas diretrizes é a intensificação do tratamento medicamentoso para hipertensão. A recomendação agora é iniciar o tratamento com dois medicamentos de classes diferentes, em vez de apenas um, como era comum anteriormente.

Esse esquema de tratamento demonstrou ser mais eficaz no controle da pressão arterial, especialmente nos primeiros meses após o diagnóstico.

Um dos principais motivos para o fracasso no controle da hipertensão é a insistência em usar apenas um medicamento explica Carlos Machado

“Começar com dois medicamentos de classes diferentes aumenta significativamente as chances de controlar a pressão, podendo atingir até 60% dos pacientes. E, quando três medicamentos são combinados, essa taxa pode subir para 90%.”

Essa combinação de medicamentos que atua em diferentes mecanismos de controle da pressão arterial garante que o tratamento seja mais eficaz e que os pacientes alcancem rapidamente os níveis de pressão adequados.

Além disso, colocar os pacientes dentro das metas de controle de pressão arterial nos primeiros três a seis meses após o diagnóstico tem um impacto significativo na redução do risco de complicações graves e na mortalidade cardiovascular.

As novas diretrizes europeias para o tratamento da hipertensão representam um avanço importante no controle da pressão arterial, tanto em termos de diagnóstico quanto de tratamento. Com foco na intervenção precoce e em mudanças no estilo de vida, essas diretrizes visam reduzir o risco de complicações graves, como infartos e AVCs, e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Cardiologia está trabalhando em uma atualização das diretrizes nacionais, que deve ser lançada em 2025. O objetivo é seguir as recomendações europeias e adotar uma abordagem mais preventiva e intensiva no tratamento da hipertensão, garantindo que mais pacientes possam controlar sua pressão arterial de maneira eficaz desde os primeiros sinais de elevação.

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