No Roda Viva, Riedel diz que houve “falha” enquanto instituição pública e sociedade quanto ao caso Vanessa
O governador também defendeu o uso da tecnologia para acelerar proteção às vítimas de violencia doméstica
O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), participou, na noite desta segunda-feira (17), do programa Roda Viva, da TV Cultura, e respondeu diversas perguntas de jornalistas presentes na sabatina. Entre os assuntos, falou sobre o caso da jornalista Vanessa Ricarte, morta pelo ex-noivo, que desencadeou investigação sobre o atendimento às mulheres vítimas de agressão no Estado.
A pergunta foi feita pela jornalista Marcella Lourenzetto que questionou o governador sobre o que havia saído de concreto da reunião organizada na noite do último domingo (16), cque contou com a prticipação de diversos órgãos de segurança, inclusive o Ministério das Mulheres.
Ao responder a pergunta, Riedel apontou que houve uma falha enquanto instituição pública e sociedade quanto ao caso de Vanessa e a outros.
“O que a gente tem que fazer enquanto poder público é compreender profundamente o que aconteceu, e aí sim abrirmos uma investigação no âmbito da Polícia Civil para apurar o ocorrido. Eu não gosto de prejulgar ninguém, a gente tem que apurar para poder definir as responsabilidades, mas, acima de tudo, buscar um caminho de correção que não está exclusivamente na mão do Executivo. Esse é um processo do sistema judicial, é um processo do Executivo, é um processo da Defensoria, do Ministério Público, de todas as instituições envolvidas, para a gente trabalhar em alguns estilos que já estão muito claros”, disse.
Ilustração de Luciano Veronezi durante entrevista do governador de MS, Eduardo Riedel, no Roda Viva desta segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025 (Foto: Reprodução/TV Cultura)
O governador pontuou também que, em Mato Grosso do Sul, os casos de feminicídio são tipificados da forma que devem ser, uma vez que é preciso mostrar a realidade das estatísticas.
“O Estado falhou, a sociedade falhou ao ver uma situação dessa. Ano passado foram 30 feminicídios no estado de Mato Grosso do Sul. Então nós temos que rever o processo. Como Estado, a gente tem que entender a nossa falha e buscar as correções. O que é isso que a gente está fazendo? A reunião foi para isso, claro que não se encerra aí. São medidas de pronto que a gente tem que buscar”, afirmou.
O jornalista Diego Sarza interrompeu a fala de Eduardo Riedel e questionou a respeito das medidas que serão empregadas com a delegada que atendeu Vanessa Ricarte na Casa da Mulher Brasileira. Como resposta, Riedel pontuou que a profissional passará por reunião nesta terça-feira (18) com o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, mas que ela trabalhou normalmente desde então e não foi afastada.
“Ela não foi afastada, porque a gente não tem os elementos. Mas ela está lá, ela cumpria plantão. Então ela não está afastada. Ela tem uma reunião amanhã com toda a equipe. Ela não trabalhou diretamente hoje. Eu não estou falando que ela cometeu um erro. Eu digo que nós falhamos enquanto instituição, governo e sociedade. Eu não sei onde está o erro, por isso está sendo investigado. É importante a gente não prejulgar um caso sem a gente compreender. É claro que teve um erro. O erro foi dela? O erro foi do sistema?”, rebateu.
Governador de MS, Eduardo Riedel, durante entrevista no Roda Viva desta segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025 (Foto: Reprodução/TV Cultura)
E o PSDB?
Entre os temas debatidos ao longo do Roda Viva está sobre o futuro do PSDB. Nos últimos dias, ficaram mais intensos os rumores e debates acerca de um possível fim da legenda, que já governou o Brasil por oito anos. Riedel é um dos poucos governadores tucanos remanescentes, ao lado de Raquel Lyra, em Pernambuco, e Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul.
Ilustração de Luciano Veronezi durante entrevista do governador de MS, Eduardo Riedel, no Roda Viva desta segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025 (Foto: Reprodução/TV Cultura)
“Existe uma discussão em curso dentro do PSDB com opiniões distintas, entre todos que detêm cargo e voz de expressão dentro do partido. Não só os atuais, como os antigos. Existem discussões abertas com outras siglas. Existe a possibilidade do PSDB permanecer, mas cada região tem suas sensibilidades. O que a governadora Raquel [Lyra] tem no Nordeste, o Eduardo [Leite] no Rio Grande do Sul tem posições distintas e posições diferentes”, disse.
Polarização e ideologia
Riedel em vários momentos falou sobre buscar uma via fora da polarização, que afasta a atenção dos assuntos do dia a dia, mencionou. Questionado diretamente se era bolsonarista, reconheceu divergências com o PT, sugeriu que por vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “dá sinais trocados” que prejudicam a economia, mas evitou tomar posição em relação ao ex-presidente. Citou que há vários nomes como opções na disputa eleitoral, apontando os governadores Ratinho Júnior (PR), Tarcísio de Freitas (SP), Eduardo Leite (RS) e Ronaldo Caiado (GO). A estratégia de evitar cravar um nome chegou a levar a apresentadora Vera Magalhães a brincar que se tratava de um tucano autêntico.
O governador ainda elogiou vários nomes, a ministra Simone Tebet, que disse ainda não ter manifestado qual seu interesse eleitoral para o ano que vem, a senadora Tereza Cristina e Marina Silva, mencionando afinidade em alguns temas ambientais, mas que divergem sobre a exploração de petróleo no Amapá, que ele considera um ativo importante para a economia do Brasil mesmo caminhando para avançar em fontes renováveis de energia.
Riedel disse aos jornalistas que tem em seu governo apoio de diferentes legendas, do PT ao PL e que persegue uma “agenda da vida real”.
Ele também evitou ser taxativo sobre o futuro do PSDB, dizendo que há visões antagônicas dentro da legenda, com vários partidos sendo sondados para eventual fusão. Disse que não podia manifestar predileção para não prejudicar os debates. Para Riedel, o PSDB perdeu protagonismo diante do tom de polarização que se estabeleceu no País. Aqui no Estado, é o terceiro mandato seguido do partido.
Economia e meio ambiente
O crescimento econômico do Estado, a diversificação das cadeias produtivas e chegada de indústrias também foram temas abordados ao longo da entrevista. Os jornalistas convidados questionaram sobre a pecuária no Pantanal e a preservação ambiental, a escolha por atrair indústrias de atividades ligadas à transição energética, com uso de biomassa, produção de combustível com grãos. A retomada do transporte ferroviário e as possibilidades que a Rota Bioceânica abre ao Estado também foram tratados no programa.
Riedel explicou aos jornalistas que o governo aportou R$ 40 milhões no Fundo Pantanal e está buscando recursos de empresas e doações para ajudar em remuneração a quem preserva e medidas de proteção ao Bioma e seus moradores. Somente agora foi possível concluir o projeto porque prevê um conjunto “robusto” de ações e era preciso assegurar mecanismos de transparência dos investimentos. O projeto deve ser divulgado no final de março.
Ele ainda falou sobre a eleição de Donald Trump e seu “discurso contundente”. Sua volta ao comando dos EUA “bagunçou o coreto”, citou, em relação à adoção de uma nova agenda, que afasta organismos multilaterais. Vê uma posição de isolacionismo sobre questões ambientais e econômicas e disse ter dúvidas dos resultados que podem produzir, uma vez que se opõe ao multilateralismo, que Riedel defende.
Segurança
O governador ainda falou que não se opõe à ideia de criação de um sistema nacional de segurança pública, como está sendo discutido. Citou a situação geográfica do Estado, que favorece o tráfico de drogas e a presença de facções criminosas. Citou o número elevado de presos pelo crime e a necessidade de que haja um debate firme sobre como a integração da segurança ocorreria na prática, com definição do papel das polícias.
Outro assunto que projeta o Estado na imprensa nacional, Riedel falou sobre a possibilidade de uma convergência em relação à demarcação de terras indígenas. Lembrou que há dificuldade de um consenso porque proprietários de terras e defensores da demarcação têm interesses divergentes e que acredita que a saída correta é comprar terras de quem tem justo título, citando que esse foi o desfecho selado no final do ano passado para encerrar longa disputa em Antônio João.
A entrevista de Eduardo Riedel foi a primeira de um governador de Mato Grosso do Sul ao programa Roda Viva.
Assista a entrevista na íntegra:
*Com informações do Primeira Página e Campo Grande News