Tomar um café antes de sair para uma festa ou balada pode parecer inofensivo — até mesmo uma estratégia para se manter desperto e animado por mais tempo. No entanto, segundo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), essa prática pode representar um risco real ao corpo e ao cérebro.
A cafeína, substância presente naturalmente no café, chá e também em bebidas energéticas, refrigerantes, alimentos industrializados e até medicamentos, não é nociva em doses moderadas para pessoas saudáveis. No entanto, quando combinada com o álcool, os efeitos podem ser potencialmente perigosos, segundo pesquisadores.
“Mesmo pessoas saudáveis devem evitar misturar cafeína com álcool”, alerta o neurocientista Sergi Ferre, do NIH.
Um efeito enganoso sobre o corpo e a mente
A combinação dos dois cria uma falsa sensação de sobriedade, fazendo com que a pessoa acredite que está mais alerta e no controle do que realmente está. Isso, segundo Ferre, aumenta o risco de decisões impulsivas, como dirigir embriagado ou continuar bebendo acima do limite seguro.
Essa falsa percepção de lucidez é especialmente preocupante em ambientes onde o consumo de álcool é elevado, como festas, bares ou eventos sociais. O indivíduo pode acabar ingerindo quantidades muito maiores do que o habitual, acreditando que ainda está “bem”, o que aumenta o risco de intoxicação alcoólica grave.
Por que a cafeína interfere na percepção da embriaguez?

O funcionamento da cafeína no organismo explica esse fenômeno. Essa substância age bloqueando a ação da adenosina, um neurotransmissor que induz a sonolência ao longo do dia. Ao inibir a adenosina, a cafeína aumenta a sensação de energia e reduz o cansaço.
No entanto, essa mesma ação interfere na capacidade do cérebro de registrar os sinais depressivos causados pelo álcool. Ou seja, o álcool continua afetando o corpo, mas a pessoa pode não perceber, o que aumenta significativamente os riscos à saúde e à segurança.
Estudos apontam que essa interação é especialmente perigosa para jovens adultos, grupo que mais consome bebidas energéticas combinadas com álcool. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o risco de acidentes, comportamentos de risco e hospitalizações é maior entre pessoas que misturam essas substâncias.
Em outras palavras: a cafeína não anula os efeitos do álcool — ela apenas os oculta.
Consequências físicas da mistura
Além do risco de superestimar sua sobriedade, a ingestão combinada de álcool e cafeína pode causar efeitos físicos significativos.
Doses elevadas de cafeína estão associadas a sintomas como:
- Palpitações cardíacas
- Ansiedade e agitação
- Problemas gastrointestinais
O álcool, por sua vez, sobrecarrega o fígado, altera o equilíbrio eletrolítico do corpo e afeta a regulação do sono. Quando consumidos juntos, os dois compostos podem provocar efeitos colaterais intensificados, como desidratação severa, insônia prolongada e até arritmias cardíacas.
Casos relatados em pronto-socorros indicam que essa combinação pode agravar quadros pré-existentes e gerar colapsos físicos inesperados, mesmo em pessoas jovens e saudáveis.
Tolerância e consumo exagerado

Outro ponto de atenção levantado pelos especialistas do NIH é que o corpo tende a desenvolver tolerância à cafeína com o uso contínuo.
Ou seja, pessoas que consomem café todos os dias podem precisar de doses maiores para sentir o mesmo efeito estimulante. Quando esse aumento é combinado ao consumo de bebidas alcoólicas, o organismo entra em estado de alerta e desequilíbrio.
Seu coração pode disparar, seu sistema digestivo pode ficar prejudicado e seu sono pode ser interrompido adverte Ferre
Além disso, o uso repetido dessa combinação pode gerar dependência psicológica, em que a pessoa sente que só consegue “curtir” se estiver simultaneamente estimulada e desinibida. Esse padrão pode levar a um ciclo de consumo cada vez mais arriscado.
Embora o café possa parecer um aliado para “aguentar a noite”, usá-lo como estratégia para equilibrar os efeitos do álcool é uma escolha arriscada. A mistura não só engana a percepção de embriaguez como também coloca em risco o funcionamento do organismo de forma geral.
Se a ideia é curtir com segurança, o melhor é evitar o uso combinado de cafeína e álcool — e, acima de tudo, respeitar os sinais do corpo. O que parece energia, pode ser apenas uma ilusão perigosa.
O Segredo





