Na semana anterior, um casal vivenciou uma situação comum em muitos relacionamentos: após um desentendimento noturno, uma das partes decidiu adotar a chamada “lei do gelo” como forma de lidar com a tensão.
A lei do gelo é caracterizada pela recusa deliberada de uma pessoa em se comunicar ou reconhecer a presença da outra, criando um silêncio intencional que interfere na interação emocional.
Segundo Kipling Williams, professor emérito de ciências psicológicas na Universidade de Purdue, esse comportamento é recorrente em diversas formas de relacionamento e tem sido objeto de estudo há mais de 30 anos. Ele afirma que a exclusão interpessoal gera impactos psicológicos profundos.
A estratégia utilizada no episódio citado é conhecida, na literatura da Universidade de Sydney, como “silêncio ruidoso”. Esse termo descreve ações como sair de maneira evidente do cômodo quando o outro entra, deixando claro o propósito de ignorar.
De acordo com a psicóloga Erin Engle, do Centro Médico Irving da Universidade Columbia, aplicar a lei do gelo pode provocar uma sensação momentânea de poder, mas também pode ter efeitos duradouros na relação.
“É tentador ver a outra pessoa se contorcer”, observa Engle, “mas os danos emocionais podem ser profundos e prolongados”.
Diante desse cenário, especialistas apontam alternativas saudáveis para lidar com o impulso de silenciar ou quando se é alvo desse comportamento.
A psiquiatra Gail Saltz, do Hospital Presbiteriano de Nova York, destaca que muitas pessoas acreditam que o silêncio seja uma abordagem branda para conflitos, mas ressalta que “responder com silêncio é uma forma de punição, mesmo que isso não seja reconhecido conscientemente”.
A prática pode desencadear sentimentos de ansiedade, medo e abandono na pessoa excluída, frequentemente resultando em dúvidas sobre si mesma, culpa e autocrítica. Saltz observa que essas reações emocionais são comuns em dinâmicas que envolvem esse tipo de distanciamento.
Williams complementa afirmando que sua pesquisa identificou uma conexão direta entre a exclusão social e as áreas cerebrais ativadas pela dor física. “O cérebro processa a rejeição social como se fosse dor física real”, explica.
Para evitar danos maiores, Williams recomenda que, ao se sentir sobrecarregado, a pessoa solicite um tempo de maneira clara: “não posso falar com você agora, estou muito chateada. Vou sair e voltarei em uma hora”.
Estabelecer um retorno definido é essencial, segundo James Wirth, professor de psicologia na Universidade Estadual de Ohio. “A ambiguidade é parte do que torna a lei do gelo tão prejudicial”, observa ele.
Embora a prática possa parecer um mecanismo de defesa, Williams destaca que manter esse comportamento exige esforço cognitivo e emocional, pois vai contra os padrões naturais de convivência e exige autocontrole contínuo.
Segundo Wirth, há pouca literatura sobre métodos eficazes para romper o ciclo da exclusão. Contudo, a principal recomendação baseada em evidências é simples: interromper o comportamento assim que identificado.
Uma possível abordagem seria escrever uma nota ou iniciar um diálogo direto. Saltz sugere apelar à empatia e refletir: “por que essa pessoa não consegue se comunicar?”. A falta de comunicação pode indicar sofrimento emocional intenso, segundo ela.
Para reverter esse padrão, Saltz propõe uma abordagem direta com base na empatia e no desejo de reconexão, utilizando frases como: “me faz sentir que não podemos avançar quando você me responde com silêncio. Quero entender o que está acontecendo com você. Não quero que você se sinta chateada. Quero que as coisas melhorem entre nós”.
Saltz ainda alerta que, embora o comportamento seja ocasional em alguns relacionamentos, sua repetição sistemática pode ser caracterizada como abuso emocional. “Quando todos os conflitos são tratados dessa forma, isso deixa de ser uma exceção e passa a ser um padrão abusivo”, afirma.
Nesse tipo de situação, recomenda-se que o casal converse sobre outras formas de resolver conflitos. Caso não haja avanços, a terapia de casal pode ser um caminho. “É uma forma de aprender maneiras mais eficazes de lidar com desentendimentos”, acrescenta Engle.
Caso apenas uma das partes esteja disposta a buscar ajuda, Saltz sugere que essa pessoa procure orientação individual, para compreender seu papel na dinâmica e desenvolver estratégias para lidar com a exclusão imposta pelo parceiro.
O caso citado terminou com uma reconciliação informal. No fim do dia, houve uma tentativa de aproximação por meio de um gesto simbólico: um pacote de biscoitos artesanais do local favorito da parceira.
Apesar de não ser a solução ideal, o gesto serviu para iniciar a reaproximação. Para os especialistas, no entanto, o diálogo sincero e a disposição para ouvir seguem sendo os caminhos mais saudáveis para romper com o silêncio e reconstruir a conexão.
Fonte; O Segredo





