A conselheira aposentada do TCE-MS, professora Marisa Joaquina Monteiro Serrano, uma das figuras femininas mais representativas da política de Mato Grosso do Sul, abriu o jogo em entrevista sobre sua rica trajetória, desde as salas de aula até o Senado Federal e o Tribunal de Contas do Estado. A entrevista foi concedida aos jornalistas Henrique Shuto e Fabiano Arruda, no respeitado programa Política de Primeira, do Portal Primeira Página.
Com a experiência de anos de vida pública, a ex-parlamentar traçou um panorama crítico da política atual, a polarização e o persistente desafio da representatividade feminina.

Educação
Professora por vocação e primeira senadora eleita por Mato Grosso do Sul, na entrevista, Marisa Serrano descreveu a educação como a grande porta de entrada para a vida pública das mulheres na sua época. Sua jornada começou com o magistério e a participação em células de discussão política e educacional ainda no contexto efervescente que antecedeu a Revolução de 1964.
“Eu sempre tive esse dom e essa vontade mesmo, gosto muito de direcionar, sempre gostei e tenho um orgulho enorme de ser professora,” afirmou.
Ela relembrou experiências desafiadoras, como lecionar em escolas com falta de estrutura, inclusive usando “lampião a gás” em classes noturnas onde a presença de alunos com armas era uma realidade.
A ex-senadora também destacou o pioneirismo no Estado com a criação das creches domiciliares da OMEP (Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar) no bairro Tiradentes, um esforço conjunto da sociedade civil para auxiliar mães que precisavam trabalhar. Marisa Serrano também lamentou que o acesso à educação infantil permaneça um desafio, que é, em sua avaliação, uma “decisão política” que ainda não recebeu a devida atenção dos gestores municipais.
Polarização
Ao analisar o cenário político atual, Marisa Serrano expressou preocupação com a polarização e o baixo nível dos debates. Ela comparou a situação com a Câmara Municipal de Campo Grande de seu tempo, quando os debates eram de “alto nível” e calcados em ideias.
A ex-parlamentar vê a política hoje como marcada por uma “época de transição muito acelerada e nebulosa, onde a tecnologia e a falta de perspectiva têm deixado o ser humano encurralado e perdido”. Sobre o cenário nacional, ela foi categórica ao se posicionar contra os extremos:
“Nós estamos discutindo… ou direita ou esquerda como se o mundo fosse preto ou branco. Não é verdade. A grande maioria da população está nesse meio…“.
Marisa Serrano manifestou a expectativa de que o País possa ter, nas próximas eleições, um candidato de “centro” equilibrado, competente e experimentado, que traga tranquilidade para o País.
Mulheres na política
A entrevista também abordou a estagnação na representatividade feminina. A ex-senadora destacou que, 50 anos depois de sua primeira eleição, a Câmara de Vereadores de Campo Grande ainda possui apenas duas mulheres.
Ela identificou o receio com a exposição da família e o medo do “linchamento” nas mídias sociais como grandes obstáculos que impedem mulheres qualificadas de se candidatarem.
Contudo, ela fez uma convocação veemente às novas gerações: “As dificuldades vão existir sempre e eu não acredito que a gente possa baixar a voz e baixar a cabeça em qualquer situação”.
“Aquelas mulheres que dizem: ‘Não, não vou entrar na política por causa da família’, eu quero dizer: ‘É por causa da família que você deve entrar na política e mudar o quadro que nós temos aí'”.
Legado e a disputa de 2002
Entre seus feitos legislativos, Marisa Serrano citou a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), após 22 anos parada no Congresso, como o grande momento de sua vida pública na educação.
Ela também relembrou a campanha ao governo do Estado em 2002, caracterizando-a como a “mais bonita” que já fez, marcada pela garra e pelo símbolo do Girassol. A candidatura, que não era prevista inicialmente, enfrentou um “rearranjo político” no segundo turno, onde o apoio de partidos que faziam parte de sua coligação foi drasticamente reduzido, tornando a disputa, que foi contra o ex-governador Zeca do PT, muito mais difícil.
Após o mandato como senadora, ela aceitou o convite para o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, onde dedicou-se a analisar o gasto na educação nos municípios, implementando o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para responsabilizar os prefeitos e buscar melhorias estruturais.
Violência contra a mulher
Sobre a violência contra a mulher, Marisa Serrano afirmou que ela “sempre existiu”, mas era “acobertada”. Hoje, com a maior visibilidade, o problema pode ser combatido com mais eficácia. Para a ex-senadora, a solução passa pela estruturação de um forte aparato “policial e jurídico que coíba” a violência de gênero.
Ela finalizou a entrevista com um apelo à participação cidadã: “Se nós quisermos fazer as coisas acontecerem, serem melhores para nós, para nossa família, para os nossos filhos, para o nosso mundo, nós temos que participar”.
A entrevista completa está disponível abaixo:
Olga Cruz





