Pode parecer confuso, mas sim, pensamento positivo e positividade tóxica não são a mesma coisa. De acordo com a especialista, o “pensamento positivo é considerado aquele em que você projeta suas expectativas, que deposita o sentimento de esperança”, ou seja, pensar de forma otimista.

Já no caso da positividade tóxica, o cenário muda, pois ela “acontece quando você nega a situação difícil e o sentimento que ela causa”, não existindo genuinamente um pensamento positivo em relação a ela.

“A diferença mais marcante é exatamente essa. Uma pessoa otimista, com pensamentos positivos, compreende os acontecimentos bons e ruins da sua vida e experiência cada qual no seu tempo, mas a pessoa que impõe a positividade tóxica se sente no dever de estar o tempo inteiro bem”, ressalta a psicóloga. 

Dúvidas frequentes sobre a positividade tóxica

Falar sobre a positividade tóxica gera inúmeras dúvidas, uma vez que ela quase sempre se apresenta de maneira sutil em frases e comportamentos que se passam como motivacionais. Pensando nisso, a psicóloga entrevistada respondeu algumas das principais perguntas sobre o assunto. Veja a seguir:

1. Como a positividade tóxica se manifesta na prática?

Como dito antes pela profissional, a positividade tóxica se caracteriza pela invalidação de emoções negativas, sejam elas próprias ou não. Segundo Rebeka, ao ver alguém expressando tristeza, “o indivíduo que manifesta a positividade tóxica tenta negar tal sentimento, com frases e comportamentos, como, por exemplo, dizer que está tudo bem, em uma situação que claramente não está”.

Além disso, a especialista ainda pontua que a crença “sempre aparece em situações de coletividade, como escola, trabalho, relações de amizade e familiares”, onde muitas vezes emoções que não sejam motivadoras e positivas são ignoradas e anuladas “pelo bem do grupo”.

2. Como ela afeta a vida do indivíduo?

Pensando na questão da coletividade disposta acima, a psicóloga afirma que dois pontos precisam ser analisados nos impactos causados pela positividade tóxica. “O primeiro é o fato do não acolhimento da pessoa que está sofrendo, e do pensamento de culpa que pode surgir nela, por não ser uma pessoa otimista”, esclarece.

Já a segunda análise diz respeito a quem pratica esses comportamentos, uma vez que além da anulação das próprias emoções “a pessoa pode ter problemas de relacionamentos por conta dessas imposições” e acabar ficando solitária na maior parte das vezes, pontua a profissional.

3. Qual o impacto deste tipo de pensamento na sociedade?

“O impacto social, claramente, é o grande aumento do adoecimento mental que tem sido observado nos últimos anos”, responde Rebeka categoricamente. Segundo seus esclarecimentos, sentir-se obrigado a ter as próprias emoções silenciadas na maior parte do tempo, gera danos emocionais que podem se desenvolver para quadros clínicos como depressão, ansiedade, burnout etc.

“Em uma situação no trabalho em que o funcionário diz que não se sente bem exercendo determinada tarefa, mas é forçado pela liderança ou pelos colegas a se manter ‘firme’ porque sabem que ele é capaz, muito provavelmente vai gerar esgotamento emocional ou outros transtornos sérios”, exemplifica a psicóloga, afirmando que esse e outros comportamentos vão sendo multiplicados pela sociedade em diversas outras áreas.

Além disso, a especialista relata que, na atual situação do país, “com mais de 8 milhões de pessoas desempregadas e com o retorno ao mapa da fome, é preocupante achar que pensar positivo resolve as situações difíceis”, e fornece saúde, segurança, alimento e outras coisas básicas para a sobrevivência humana.

4. Como lidar com uma pessoa que apresenta esse comportamento

Se você identificar traços desse comportamento tóxico em alguém, uma das coisas a se fazer é dizer a essa pessoa como se sente a respeito. “Às vezes é necessário rebater e pontuar que não se sente acolhido e que nem sempre é possível pensar positivamente”, afirma a especialista em saúde mental, que segue explicando que, para isso, é fundamental reconhecer e validar as próprias emoções.

Outro apontamento de Rebeka é dialogar a respeito da individualidade e das diferenças de cada pessoa e de suas maneiras em lidar com as situações, e a partir disso, até mesmo orientar que ela busque acompanhamento terapêutico, a fim de que durante o processo ela possa compreender como “gerenciar suas emoções de forma saudável”, finaliza.

5. Como evitar a positividade tóxica no dia a dia?

De acordo com a profissional, “a positividade tóxica tem se manifestado em diferentes lugares diariamente”, desde as redes sociais, até reuniões familiares e com os amigos, dificultando a evitação desse comportamento em alguns contextos. Ainda assim, ela ressalta a importância da observação em cada um deles.

“Independentemente do lugar em que esteja inserido, é importante observar a forma como você se sente diante das falas e comportamentos de determinadas pessoas e a frequência com que isso aparece no seu dia a dia. Como se sente quando aquela blogueira que você segue diz, por exemplo, que querer é poder? Ou quando alguém diz que você precisa ser mais positivo?”, pontua.

Para evitar a positividade tóxica, é importante que as pessoas se permitam sentir suas emoções, tanto as positivas quanto as negativas. É preciso aceitar que a vida nem sempre é perfeita e que todos enfrentamos dificuldades. A positividade saudável é aquela que reconhece a realidade da vida, celebra o bom e enfrenta o ruim de maneira construtiva. Ao reconhecer nossos sentimentos negativos, podemos começar a lidar com eles de maneira saudável, buscando ajuda quando necessário. 

6. Estando em um ambiente tóxico, como se manter positivo?

Mesmo em situações boas e tranquilas, pode ser difícil se manter positivo e por isso “essa não deve ser uma cobrança pessoal”, ressalta Rebeka. Ainda assim, se não há possibilidade de se afastar do ambiente tóxico, uma maneira de tentar se manter bem emocionalmente é realizando um acompanhamento psicológico.

“Um ambiente tóxico provavelmente acarretará sofrimento para as pessoas envolvidas, portanto se faz necessário mais do que otimismo para lidar com alguns conflitos”, explica a especialista que prossegue dizendo que é fundamental ter “maturidade emocional para discernir as situações e desenvolver estratégias adequadas para lidar com elas”, o que pode ser conversado e aprendido com a psicoterapia.

O autoconhecimento é extremamente importante para reconhecer e combater a positividade tóxica. De acordo com a psicóloga, com ele você consegue ter mais “clareza acerca da realidade, das situações e das emoções existentes, sem negá-las”.

Frases características da positividade tóxica para evitar

Depois de compreender o que é a positividade tóxica e os danos que ela pode ocasionar para a saúde emocional, confira algumas falas que podem parecer motivacionais e inspiradoras, mas que, em muitas situações, é melhor que sejam evitadas, por mais atrapalham do que ajudarem.

• Olhe para o lado bom das coisas.
• Seja mais good vibes.
• Não fique assim, tudo tem o seu lado positivo.
• Não fique triste, está tudo bem!
• Você está atraindo o que emana.
• Tudo acontece por um motivo.
• Você não pode reclamar das coisas.
• Pensa, por outro lado, poderia ter sido pior.
• Você tem que ser grato.
• As coisas só dependem de você para acontecer.
• Pensar negativo não irá ajudar em nada.
• Eu já passei por situações mais difíceis e nunca reclamei.
• Você não tem motivos para se sentir mal.
• No meu tempo era muito pior. Você tinha que agradecer por isso.
• Mude seus pensamentos que você supera isso rápido.

Para finalizar, Rebeka pontua que ir na contramão da positividade tóxica, “não é ser uma pessoa pessimista ou negativa”, e sim saber aceitar e reconhecer que todos os sentimentos, positivos ou não, são necessários para o equilíbrio da saúde mental e desenvolvimento da qualidade de vida.

fonte: @dicasdemulher