Essa semana ouvi a comentarista Cláudia Feitosa Santana na CNN no programa “Ciência no cotidiano” explicando como a empatia se flexiona de acordo com nossos afetos. E que na atualidade da revolução trazida pelas mídias sociais, pode levar, quando em excesso, à cultura do cancelamento e ao linchamento virtual. E ainda afirma que é um equívoco acharmos que uma sociedade mais empática é necessariamente uma sociedade melhor. Em sua definição de estudiosa do assunto diz: “A empatia tem limites, mas o respeito é para todos.”
E essas colocações me fizeram refletir como uma visão unilateral de uma situação torna a nossa empatia míope.
Se buscarmos uma explicação técnica sobre o tema empatia na Wikipédia, a enciclopédia livre, temos uma definição muito esclarecedora: “A empatia envolve três componentes: afetivo, cognitivo e regulador de emoções. O componente afetivo baseia-se em compartilhar, e na compreensão de estados emocionais de outros. O cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais de outras pessoas. Já a regulação das emoções lida com o grau das respostas empáticas.
A empatia parte da perspectiva referencial que é pessoal a ela, ciente das próprias limitações, sem confundir a si mesmo com o outro.”
Quanto à afetividade, percebemos o comportamento e estado emocional da outra pessoa? E meu estado emocional, quanto impacta na minha percepção empática sobre a situação que estou vivenciando?
O meu sentimento invade a empatia e pode confundi-la ou mesmo nem percebê-la, provocando uma reação de pouca clareza na situação vivida.
O componente cognitivo representa a minha capacidade de avaliar e julgar a situação vivida. Essa avaliação me permitirá regulação das emoções, bem como, definir qual a medida a ser tomada no processo empático, avaliando a necessidade de intervenção ou ação empática relacionada ao fato.
Se o meu emocional estiver abalado, não terei capacidade de julgar ou mesmo de reagir às questões empáticas.
E uma visão unilateral de uma situação torna a nossa empatia míope.
E não raro temos pré-julgamentos e acusações que podem levar à penalização ou condenação indevida de inocente, sem o sagrado direito de defesa.
Na realidade, na maioria das vezes, desconhecemos todos os fatos que envolvem a situação vivida pelo outro, e, mesmo assim, nos posicionamos ambiciosamente empáticos, julgadores do entendimento alheio.
Pensemos numa situação em que uma mulher grávida está com problemas de locomoção num local onde só temos homens. Por questões óbvias, o homem não pode vivenciar essa situação e daí a dificuldade de se colocar no lugar da grávida. Pode tentar entender o desconforto, elencar as dificuldades, mas nunca terá condições plenas de avaliar a experiência emocional deste fato tão relevante na vida das mulheres.
A grande maioria dos estudiosos do assunto afirmam que precisamos estar dispostos a entender que todos somos diferentes e reagimos de formas distintas frente às situações vividas.
Precisamos parar de julgar algumas reações emocionais, pois desconhecemos a realidade daquela pessoa e o que a levou à referida reação.
Precisamos estar atentos, sermos flexíveis e ampliar constantemente o nosso controle emocional, estarmos dispostos a entender as pessoas, olhar seus defeitos e qualidades com olhar mais fraterno e abrangente, e especialmente toda a jornada de seu próximo, seu irmão ou irmã.
Além de ponderar cada possível reação que estamos causando, cada possível frustração que geramos e quais as ações que devemos tomar para reforçar nosso entendimento e compreensão da empatia. Sabidamente não é fácil e esse entendimento, acredito, pode dar nova visão sobre a empatia.
E não se pode deixar de salientar que essa reflexão sobre a empatia e sua aplicação, com possível mudança de postura, usando a lente da fraternidade e do amor, será responsável por formar líderes melhores, julgadores melhores. trabalhadores melhores, atendentes melhores, pais e mães melhores, e com certeza pessoas melhores, sem medo de ser feliz!
Dra. Iacita Azamor Pionti
Advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres