Inicialmente vamos trazer alguns dados estatísticos que nos assustam e foram apresentados no anuário brasileiro de segurança pública.
Os números indicam que 16,3% das mulheres idosas são analfabetas e 7 em cada 10 denúncias de violências contra pessoas idosas registradas no Disque 100, em 2022, foram contra pessoas do sexo feminino, correspondendo a 70,6% das vítimas.
Ao todo, foram quase 67 mil denúncias de violações de direitos humanos contra mulheres idosas no país, o que corresponde a aproximadamente 8 denúncias por hora.
E as crianças e adolescentes temos que as meninas de até 13 anos de idade são as principais vítimas de violência sexual no Brasil, correspondendo a cerca de 86% dos casos, totalizando quase 35 mil vítimas, sendo que em mais de 40% as meninas tinham menos de 10 anos de idade e 70% dos agressores eram familiares e dentro de suas residências.
Mulheres em situação de rua representam 12% do total de pessoas, mas foram vítimas de 40% dos casos de violência notificados em 2022, com base nos dados do Cadastro Único e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis – Esse grupo é ainda mais invisibilizado, proporcionalmente, esse é o grupo de mulheres que mais sofre Violência.
Nos casos de violência notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) contra pessoas LGBTQIA+, a maioria das vítimas era do sexo feminino (65% no total).
Esses números alarmantes trazem à tona algumas questões sociais de desigualdade de gênero que expõem as mulheres a mais situações de discriminação e violência.
E o que dizer da pluralidade das mulheres, a mãe que gera e educa os cidadãos, a profissional que estuda e dissemina conhecimento, a empreendedora que gera divisas e movimenta boa parte do comércio e indústria do Brasil.
Portanto cabe refletir sobre neste mês de março para que possamos celebrar com todas as mulheres, sem deixar ninguém para trás, fazendo desta data um marco político de luta e afirmação da igualdade e da equidade de gênero, enaltecendo todas as mulheres com representatividade e transversalidade e para além dos meses comemorativos. É bom reforçar a necessidade de valorizar as mulheres e grupos minorizados durante todo o ano.
A interseccionalidade talvez seja a fronteira mais profunda de compreensão sobre o abismo entre a nossa realidade atual e uma sociedade mais equânime.
Precisamos repensar a posição da mulher com a lente de gênero e raça e não como tem sido sempre vista como o “outro”, a partir da perspectiva do homem, e jamais como a si mesma.
Ainda diante dos números em relação à diversidade sexual, 97,4% são heterossexuais, 1,5% lésbicas, 1,1% bissexuais. Ao todo 99,7% são cisgênero e somente 0,3% são transgênero. Quando falamos de deficiência, 99,7% delas são sem deficiência e 0,3% são mulheres com deficiência. Em relação à idade, apenas 7,6% são mulheres com 40 anos ou mais e somente 1,4% têm 50 anos ou mais.
Por isso, para este Dia Internacional da Mulher, pergunto, de que mulher vamos falar? Qual mulher vamos escolher para representar trazendo toda a gama e singularidade das mulheres brasileiras, em comerciais, eventos, premiações ou para palestrar neste mês tão importante?
Vamos deixar o padrão preponderante que sempre vem ‘a nossa mente, mulher branca, sem deficiência, jovem, heterocisnormativa, bem-sucedida, bonita, esbelta?
Deixaremos mais uma vez de tratar do tema da diversidade de forma consciente e inclusiva, seguiremos falhando, excluindo e marginalizando?
Será que vamos seguir mostrando que não entendemos e não aprendemos nada?
Se você quer realmente enaltecer todas as mulheres nesta data, e fazer dela um marco político de luta e afirmação da igualdade e da equidade de gênero, garanta que está abrangendo todas as mulheres com representatividade e proporcionalidade, em todos os comerciais e propagandas, em todos os serviços oferecidos, em todos os eventos realizados, em todas as palestras ministradas e para além das datas e meses comemorativos.
Que possamos a cada dia reforçar a necessidade de valorizar as mulheres em todos os dias do ano, concedendo a elas as mesmas oportunidades de ascensão, respeito a seus direitos com equiparação de salários entre homens e mulheres nos mesmos cargos ou posições, incentivando políticas públicas que promovam a garantia de direitos e condições de vida dignas a todas as mulheres e crianças, no caminho do sol, sem medo de ser feliz!
Dra. Iacita Azamor Pionti
Advogada e Superintendente da Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande-MS





