Há um ciclone formado? Sim, áreas de baixa pressão que atuaram durante a segunda-feira no Sul do Brasil com chuva em muitas áreas deram origem a uma ciclogênese (o processo de formação de um ciclone). O ciclone já está formado e pode ser observado nas imagens de satélite sobre o Atlântico a Leste do Rio Grande do Sul.
O ciclone vai provocar chuva intensa de novo? Não. Esta terça-feira será um dia com circulação ciclônica no Rio Grande do Sul. Quando isso ocorre, a nebulosidade varia bastante durante o dia com períodos de sol e nuvens se intercalando com de céu nublado a encoberto com chance de chuva ou garoa isolada e passageira. Eventualmente, pode ter pancada mais forte de chuva, porém isolada e breve. Essa alternância de sol e chuva em circulação ciclônica não raro gera arco-íris, especialmente à tarde.
A quanto vai chegar o vento? As regiões que mais devem ter vento hoje serão o Sul e o Leste. No Sul e na Campanha, 70 km/h a 90 km/h em alguns pontos, principalmente no Litoral Sul. Em Porto Alegre, em média, 50 km/h a 70 km/h, mas, pela topografia, o vento pode ser mais forte em alguns pontos. São os casos de bairros mais altos da cidade e das margens do Guaíba, além de locais em que os prédios canalizam e potencializa a força do vento. No Litoral Norte, a previsão é de vento nesta terça em alguns momentos com 60 km/h a 80 km/h com as rajadas mais fortes previstas para localidades mais ao Sul da região, especialmente entre Palmares do Sul e Tramandaí.
Quando diminui o vento no Rio Grande do Sul? Normalmente, na maioria dos ciclones, o vento mais forte sopra a partir do começo do dia com as rajadas mais fortes durante a manhã e o começo da tarde, cedendo do meio da tarde para a noite, embora ainda ocorram rajadas esporádicas, especialmente na costa. Deve ser o caso de hoje.
O vento pode causar problemas? Sim. Com a velocidade do vento prevista, podem se dar quedas de árvores ou falta de luz em alguns pontos, especialmente no Sul gaúcho. Como choveu muito, o solo está saturado de umidade e instável, assim mesmo vento moderado já é capaz de derrubar algumas árvores.
Este ciclone será como os muito intensos do ano passado? Não. Dois ciclones por demais significativos atingiram o Rio Grande do Sul em 2023. O de junho, junto ao Litoral Norte e muito perto da costa, causou chuva extrema acima de 300 mm e vento intenso acima de 100 km/h com 16 vítimas. O de julho gerou vento muitíssimo duro com rajadas de até 150 km/h ou mais no Sul gaúcho e em Santa Catarina. Isso não vai ocorrer desta vez pela posição, intensidade e trajetória do ciclone.
O ciclone terá impactos em outros estados? Sim. O vento deve aumentar no Sul e no Leste catarinense, especialmente no Litoral Sul catarinense, com rajadas de 70 km/h a 90 km/h entre hoje e amanhã. Na área de Laguna, isoladamente, e no Planalto Sul de Santa Catarina, podem ocorrer rajadas mais fortes. O vento aumentará ainda nos litorais de São Paulo e Rio de Janeiro entre esta quarta e a quinta à medida que o campo de vento do ciclone se expande. Mesmo os litorais do Espírito Santo e do Sul da Bahia vão experimentar um aumento do vento, soprando de Sul, na segunda metade da semana.
O ciclone vai interferir no mar? Muito. O sistema vai se intensificar e se tornar maior em dimensão entre esta terça e quarta a Leste do Sul do Brasil com um enorme campo de vento forte sobre o oceano. No centro do ciclone, em mar aberto, distante da costa, as rajadas estarão ao redor de 150 km/h. Isso vai gerar forte agitação marítima com ressaca nos litorais do Sul e do Sudeste, e talvez até mais ao Sul do Nordeste. A ressaca poderá ser suficientemente forte para que o mar tome conta da faixa de areia e possa causar alguns danos em estruturas na beira da praia, como quiosques e calçadão. Em algumas praias do Sul e do Sudeste não protegidas por dunas, o mar pode avançar em ruas perto da praia.
Quando o ciclone se afasta? Hoje e em parte da quarta, o ciclone estará logo a Leste do Sul do Brasil e ao Sul do Sudeste do Brasil sobre o Atlântico. No decorrer a quarta, o sistema já se afasta mais para Leste. Entre quinta e sexta, a tendência é se distanciar ainda mais do continente e na sexta-feira já estará longe do Brasil.
Esse ciclone vai ajudar a acabar com o período chuvoso no Rio Grande do Sul? Sim e era justamente o que os gaúchos mais precisavam, um sistema meteorológico que mudasse o padrão atmosférico das últimas semanas. Ciclones costumam impulsionar ar seco a partir do Oeste quando estão na costa. Por isso, passada a instabilidade deste início de semana, o ar seco trazido pelo ciclone vai garantir vários dias seguidos sem chuva e com sol. Como ciclones funcionam como “motores” para levar ar frio mais ao Norte, justamente a ausência de ciclones intensos no fim de abril e ao longo de maio nas latitudes médias do continente manteve o bloqueio do ar quente por tempo demasiado no Centro do Brasil, o que resultou na chuva recorde e nas enchentes sem precedentes no Rio Grande do Sul.
*Fonte: Metsul