Nilofar Ayoubi é afegã e viveu durante dez anos disfarçada de homem para poder escapar da opressão a que as mulheres eram sujeitas na primeira fase do regime Talibã. Nascida em 1993, ela recorda o período em que viveu como outra pessoa para sua própria proteção. Cresceu em Kunduz, cidade que, segundo ela, não era “boa para uma mulher crescer”.
“Como homem, uma pessoa passa a ter automaticamente mais poder, mesmo sendo uma criança de dois anos. A partir dos quatro anos de idade, um homem pode se tornar acompanhante legal de sua mãe e esta passa a ser a sua escrava”, disse Nilofar em entrevista para a BBC.
Devido às regras rigorosas que o regime Talibã impunha à comunidade feminina, muitas mães começaram a vestir as filhas como meninos para conseguirem protegê-las. Para Nilofar, o disfarce permitiu-lhe viver “com liberdade”.
Quando era criança, a afegã tinha o cabelo curto e usava as roupas dos irmãos. Confessa que chegou mesmo a ver-se como um rapaz, pois vivia e tinha as rotinas a que estes estavam associados. “Eu nem sabia que as meninas menstruavam”, explicou À BBC.
Foi aos 13 anos, após uma aula de judô, que Nilofar percebeu o sangue escorrendo em suas calças. Ela revela que teve um choque de realidade e começou a perceber que “já não estava segura”. O processo de assumir que era, na realidade, uma mulher não foi fácil.
“Lembro-me de ficar tão chateada por ser menina que, durante a noite, chorei na minha cama e implorei a Deus. (…) Tudo é tabu para uma menina no Afeganistão, incluindo o que acontece quando o corpo começa a mudar”, afirmou.
Apesar de ter acabado por assumir que era, de fato, uma mulher, Nilofar se descreveu como uma pessoa rebelde e corajosa. Foi para a escola e criou um movimento para promover a educação das mulheres, sobretudo no que dizia respeito aos temas que não eram lecionados nos estabelecimentos de ensino no Afeganistão.
Dado o mérito escolar, a jovem teve a oportunidade de ir estudar na Índia, e com 19 anos, se casou.
Ao regressar ao Afeganistão e contar com o apoio do marido, a jovem se torno empreendedora de sucesso e criou um império da moda, de móveis e design de interiores, com fico em dar emprego às mulheres que não têm o apoio financeiro de um homem.
*Com informações de Correio da Manhã