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No Dia Mundial da Poesia, conheça Flora Thomé 

O Dia Mundial da Poesia é celebrado também nesta terça-feira, 21 de março. E nada mais justo que conhecermos uma mulher forte e que sempre dedicou sua vida à arte de escrever. Filha da terra, Flora Egídio Thomé nasceu em Três Lagoas no dia 14 de novembro de 1930. Morou lá até falecer em 1º de abril de 2014. Pertenceu à Academia Sul-Mato-Matogrossense de Letras, ocupando a cadeira nº 33. Atuou como professora, exerceu o magistério por 42 anos, na cidade de Três Lagoas.

Seu pai Egídio Thomé e sua mãe, Raciba, libaneses imigrantes, que se conheceram em São Paulo e foram enfrentar a vida em Três Lagoas no começo dos anos vinte.

Casaram-se e tiveram sete filhos. Aos 9 anos de idade Flora Thomé perdeu seu pai, o dia em que Flora nasceu foi o dia mais feliz da vida de seu pai, pois veio depois dos cinco filhos homens.

Cresceu numa família árabe, arraigada às tradições do país de origem apegada em excesso aos filhos. Quando seu pai faleceu, sua mãe fez de tudo para mantê-los unidos. 

A infância de Flora foi como a de toda menina pobre que faz da rua e do quintal, seu espaço de liberdade, de correria. Com sua irmã brincava de casinha, de professor e aluno, com brinquedos artesanais que elas mesmas improvisavam.

Em 1948, quando terminou o ginásio, foi convidada a dar aulas. Flora Thomé começou sua carreira no magistério em 1949, como professora primária na escola 2 de Julho. Começou de baixo, no bom sentido, lecionando a primeira série do primário, porque tudo é gratificante. Lecionou depois o terceiro ano, participando de uma experiência rica, em que aprendia com os colegas e com os alunos também. 

Naquela época a escola pagava relativamente: 700 mil réis, um salário mensal com o qual contribuiu nas despesas da casa e ajudava a manter seus dois irmãos que estudavam fora.

Em 1969, criou-se a Faculdade Estadual de Mato Grosso com seus vários centros pedagógicos de Três Lagoas, no qual ingressou para melhorar o nível de sua formação profissional, como professora de Língua Portuguesa no ginásio estadual 2 de julho e no Colégio de 1º e 2º Graus Fernando Correa.

Flora Thomé, lecionou as disciplinas de Língua Portuguesa e de Comunicação e Expressão no Centro Universitário de Três Lagoas, onde estimulou atividades culturais, despertando nos alunos o gosto pela arte.

Flora Thomé, escritora sul-mato-grossense foi incentivada a publicar seus poemas, pelo amigo Rosário Congro. 

Escreveu “Cirrus”, já em segunda edição, coletânea de poemas tecidos na linha modernista, prefaciado por Rosário Congro que acentua:”Quantas coisas ela quis dizer com trem que não traz alguém”, “os caminhos se desfazem”, “Ânsias em erupção”, -“A fadiga do não realizado”. páginas muito brancas e muito altas”, Cirrus de fato. 

Ao ser editado, o livro de Flora Thomé foi alvo de muitos elogios da coluna literária do “Diário de São Paulo” da palavra de Cassiano Ricardo, de José Condé e Valdemar Cavalcanti. 

Para o “menino moleque” o saudoso maestro Frederico Lieberman compôs uma partitura musical profundamente subjetiva, a poesia de alma, extraindo-lhe a essência, o que, em poesia, é válido e autêntico. 

Alguns anos mais tarde, fez uma antologia dos poetas da terra, que denominou: Antologia Dimensional de Poetas Três-Lagoenses, para preservar a memória regional de nossa poesia.

Publicou também outros poemas sob o título “Cantos e Recantos”, por causa disso foi convidada a pertencer à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Durante muitos anos representou Três Lagoas no Conselho Estadual de Cultura.

FERROVIA X RODOVIA

Lá vem um trem

correndo vem

fazendo curva

jogando apito

cheio de trem…

Eu vejo um trem

um outro trem.

Trem. Mais trem.

É trem que chega

trazendo gente

cheia de trem.

Trem. Muito trem.

Que tenho eu

com esse trem

que longe vem

se não me traz

nenhum alguém?

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA X RODOVIÁRIA

Era um bonito prédio

altivo soberbo imponente

– próprio para encontros e despedidas –

lembrava até um pássaro branco branco

prestes a voar

Erguido no vértice de duas avenidas

como se estivesse a namorar

noite e dia a bucólica confluência

de nossas praças e ruas

que pareciam franjas

trilhadas e bordadas…

De um lado

por caminhos de areia

e de outro

por trilheiros de aço

que se estendiam ao longo da vida…

Tinha voz tinha silvo tinha eco

para os encontros e despedidas.

………………………….

AREIA X ASFALTO

“… areia da grossa, areia da fina… areia me faça ficar pequenina”. Palavras mágicas da fada do Sininho, do livro PETER PAN, não povoaram meu universo fantasioso de criança, mas areias quentes e escaldantes, sulcadas por rodas de carroça, carros-de-boi, cruzando preguiçosamente as ruas e avenidas que permearam nossa infância:

Olhando pra rua

me vejo criança

me vejo menina

deitada na areia

brincando na areia

fazendo castelos

castelos de areia…

Me sinto mulher

e olho pra rua…

Ah eu tenho desejos

( ah! desejos impossíveis)

de ser outra vez criança

de deitar na rua

de brincar na areia

de fazer castelos

castelos de areia…

Hoje só me restam os castelos de areia!

… areia, como o sonho e vontade, parecia não ter fim e, aos poucos, vieram a pedra, o pedrisco e betume tomando o lugar da grossa areia das ruas e avenidas. Era o progresso chegando, mudando o cenário, a paisagem e o próprio chão… E a memória silenciosa tem um poder que muito nos fala:

“Ontem, Avenida Central

Hoje, Antônio Trajano

90 anos de passarela:

………………….

 e nesse mosaico

de apitos acenos ponteiros

reces cânticos

árvores areia pedras

e silhuetas

humana, animais e vegetais

90 anos de passarela!

Ontem, Avenida Central,

Hoje, Antônio Trajano”

RIO SUCURIÚ X RIO PARANÁ

Rio caudaloso

espia e espelha velha ponte.

Pedaço de nós.

e

De assalto em assalto

acabaram-se os saltos

de Itapura e Urubupungá

TRÊS LAGOAS – EM PROSA E VERSO

Entre agora e depois

o instante é ponte

que me leva ao amanhã.

Quanto tempo se passou desde que a história de um povo era transmitida pelos mais velhos a seus descendentes. Contada e recontada, preservaram-se os costumes de um grupo, região ou comunidade. Hoje nesse mundo globalizado, as máquinas, e-mails, faxes, telefones e webcans aproximam pessoas e entidades nos mais distantes lugares, tornando o processo mais rápido e eficiente. Poucos, bem poucos conheciam o ontem de sua família, cidade ou país. Parece que memorizar são coisas de antigamente… Mesmo assim, muitos mal vivem o hoje e o hoje é véspera do futuro… e a humanidade está mais voltada para o amanhã. Ao trazer alguns aspectos marcantes do início de nossa cidade, não o faço por saudosismo, mas para oferecer aos estudantes e jovens, leitores e amigos, um pouco desse passado tão esquecido ou pouco divulgado. Tentamos fazê-lo esperando contribuir, em parte, para resgatar, vultos, fatos ou eventos da (ex) Caçula de MS. “A memória não é útil somente para dar erudição. Também o é para a conduta da vida…”

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