A Real Academia de Ciências da Suécia encerrou as condecorações deste ano em sua 120ª. edição, desde 1901, sendo ainda o mais cobiçado prêmio. O empresário, Alfred Bernhard Nobel (1833-1896), ficou milionário ao desenvolver uma forma de ampliar a produção de nitroglicerina, inventar a dinamite e criar um detonador que tornou mais seguro o uso de explosivos em várias atividades.
Um ano antes de morrer, o inventor determinou, em testamento, que, após seu falecimento, a maior parte de sua fortuna fosse destinada a uma fundação que levaria seu nome e ficaria encarregada de premiar, anualmente, segundo ele “ – a quem tiver feito a descoberta mais importante” nos campos da Física, Química, Medicina, Literatura e para promover a paz.
Inspirado na iniciativa de Nobel, o banco central da Suécia criou, em 1968, o chamado Prêmio SverigesRiksbank em Ciências Econômicas, que passou a ser chamado de o prêmio Nobel.
Dos 609 Nobéis distribuídos até hoje, 115 reconhecem a importância de descobertas e invenções no campo da Física e 114 distinguem as contribuições mais relevantes à Literatura. As condecorações foram entregues 113 vezes para estudos e invenções ligadas à Química e 112 para a Medicina. A Fundação Nobel também já distribuiu 103 prêmios da Paz, enquanto o Nobel da Economia (o único distribuído ininterruptamente) foi concedido em 53 ocasiões. Destas condecorações apenas 58 foram para mulheres.
Por outro lado, desde 2014, cabe a uma mulher, a paquistanesa Malala Yousafzai, o título de pessoa mais jovem a receber o prêmio: por seu ativismo em prol do acesso de crianças e mulheres à educação, Malala recebeu o Nobel da Paz quando tinha apenas 17 anos de idade.
Além disso, a cientista polonesa Marie Curie é uma das quatro únicas pessoas que conseguiram o feito de serem laureadas duas vezes – com o detalhe de que Marie Curie obteve dois Nobéis em áreas diferentes: Física, em 1903, e Química, em 1911, feito só alcançado pelo químico Linus Pauling (vencedor em Química, em 1954, e da Paz, em 1962).
A família Curie ainda faturou outros dois prêmios: em 1903, o prêmio de Física também foi concedido ao marido de Marie, Pierre Curie. E , em 1935, foi a vez da filha do casal, Iréne Joliot-Curie ser escolhida uma das vencedoras em Química.
A título de comparação, no ano passado, quatro dos 11 premiados eram mulheres. Em 2009, ano com o maior número de ganhadoras, cinco pesquisadoras foram agraciadas.
Entre os 13 ganhadores deste ano, temos a jornalista filipina Maria Ressa, que dividiu com o também jornalista russo Dmitry Muratov o Prêmio Nobel da Paz.
Este ano, além de Ressa, Muratov e dos economistas David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens, também foram agraciados o escritor Abdulrazak Gurnah, da Tanzânia, que recebeu o Nobel de Literatura; os neurocientistas norte-americanos David Julius e Ardem Patapoutian, laureados com o Nobel de Medicina, e os pesquisadores Benjamin List, que é alemão, e David MacMillan, norte-americano, em Química. Já o prêmio de Física foi concedido ao norte-americano nascido no Japão Syukuro Manabe, ao alemão Klaus Hasselmann e ao italiano Giorgio Parisi.
Os ganhadores de cada categoria dividem, entre si, um prêmio de 10 milhões de coroas suecas, ou cerca de R$ 6,3 milhões, além de uma medalha e um diploma. Ao longo do tempo, só duas pessoas recusaram a distinção voluntariamente: o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre, que, em 1964, se negou a receber o prêmio de Literatura, e o político vietnamita Le Duc Tho, um dos fundadores do Partido Comunista da antiga Indochina e que, em 1973, receberia o Nobel da Paz por, junto com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, ter negociado o acordo de paz que selou o fim da guerra do Vietnã.
Além destas duas ocasiões, quatro vencedores foram forçados a recusar o prêmio. No fim da década de 1930, o ditador Adolf Hitler proibiu três cientistas alemães (Richard Kuhn e Adolf Butenandt, em Química, e Gerhard Domagk, em Medicina) de aceitarem o prêmio – os três receberam suas medalhas e diplomas posteriormente, mas já não puderam receber a premiação em dinheiro.
Em 1958, foi a vez das autoridades da extinta União Soviética coagirem o ganhador do Nobel de Literatura de 1958, Boris Pasternak, a não aceitar o reconhecimento a sua obra.
Como vemos nas estatísticas, as mulheres ainda são poucas a serem agraciadas com o prêmio Nobel.
Neste ano, o Prêmio Nobel de Economia de 2023 foi concedido a Claudia Goldin, professora da Universidade Harvard, por seus trabalhos sobre mulheres no mercado de trabalho. Ela é a terceira mulher a vencer o prêmio desde sua primeira edição, em 1969, ela tem 77 anos, nasceu em Nova York (Estados Unidos) e é PhD pela Universidade de Chicago. Ela é codiretora do Grupo de Estudos sobre Gêneros na Economia do National Bureau ofEconomic Research (NBER).
Os estudos da vencedora mostraram que, parte da explicação para que, ainda hoje, ocorra uma grande disparidade salarial e de oportunidades entre homens e mulheres (gender gap, em inglês) é a fase da vida em que mulheres precisam tomar decisões importantes para suas carreiras, ainda muito jovens, quando devem fazer escolhas sobre assuntos como a maternidade, por exemplo.
A pesquisa de Claudia Goldin recorreu a mais de 200 anos de dados nos Estados Unidos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Diferente do que a pesquisadora imaginava, essa participação não ocorreu de uma maneira ascendente, mas em uma curva em formato de “U”.
Até o século XVIII, as mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho por conta da própria dinâmica social: elas trabalhavam dentro das propriedades da família em uma sociedade agrária.
No entanto, no início do século XIX, com a transição para uma sociedade industrial — que levou ao trabalho fora de casa —, o percentual de mulheres casadas no mercado teve uma redução drástica.
O cenário mudou novamente no começo do século XX, quando o setor de serviços ganhou força e chamou, mais uma vez, as mulheres ao mercado de trabalho. Também foi nesse período que o nível de educação das mulheres passou a aumentar, ultrapassando, inclusive, os níveis de escolaridade dos homens em países desenvolvidos.
Além disso, Claudia Goldin demonstrou que o acesso à pílula anticoncepcional teve um importante papel para a aceleração dessa participação, já que ofereceu uma maior possibilidade para planejamento de vida e de carreira.
Mesmo com o método contraceptivo oferecendo a oportunidade de planejamento familiar, a maternidade ainda tem o poder de reforçar o gendergap. Isso porque as dinâmicas ainda presentes no mercado de trabalho tendem a dificultar a ascensão profissional das mães.
A primeira mulher a vencer o prêmio foi a norte-americana Ellinor Ostrom, em 2009, por seus trabalhos que mostram que a empresa e as associações de usuários são às vezes mais eficazes que o mercado.
Só dez anos depois, em 2019, a segunda mulher foi laureada: a franco-americana Esther Duflo, que venceu o prêmio junto aos pesquisadores AbhijitBanerjee e Michael Kremer, por seus trabalhos no combate à pobreza. Ela também foi a pessoa mais jovem a receber o prêmio, com 46 anos.
Também foi agraciada Narges Mohammadi que está atualmente cumprindo várias sentenças na prisão Evin, em Teerã, que somadas chegam a cerca de 12anos de prisão, de acordo com a organização de direitos Front Line Defenders.
Ela é a vice-diretora do Defenders of Human RightsCenter, uma organização não governamental liderada por Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2003.
Narges Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o prêmio de 122 anos e sua luta pelos direitos humanos e pela liberdade foram cruciais pela condecoração.
Que possamos ter mais mulheres recebendo o premio nobel nas mais diversas categorias fortalecendo a presença feminina nas ciências e na luta incansável pela paz e a liberdade, combatendo a discriminação e a violência com seus atos de coragem, sem medo de ser feliz!
Dra. Iacita Azamor Pionti
Advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres