O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, informou, neste domingo (18), que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “cruzou uma linha vermelha” em suas declarações mais recentes sobre a guerra na Faixa de Gaza.
Neste domingo, Lula voltou a atacar a comunidade judaica. Ele comparou a operação militar de Israel na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus realizado por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
Em reação, Netanyahu respondeu: “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, publicou o primeiro-ministro no X (antigo Twitter).
Não satisfeitos com o ataques, Lula voltou a criticar os países que interromperam as doações para a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência e Trabalho para Refugiados da Palestina no Oriente Próximo, na sigla em inglês).
O órgão é acusado de ter funcionários que ajudaram diretamente o Hamas nos ataques terroristas contra Israel em 7 de outubro de 2023. Em reação, cerca de 10 países, incluindo os Estados Unidos, cortaram os repasses financeiros para a entidade.
Além dos EUA, outras nações também aderiram à derrubada financeira, como Canadá, Austrália, Itália, Reino Unido, Finlândia, Países Baixos, Alemanha, Japão e Áustria. Lula, no entanto, decidiu ir na contramão das lideranças internacionais.
Netanyahu, juntamente com seu ministro de Relações Exteriores, Israel Katz, decidiram convocar o embaixador brasileiro em Israel para uma reprimenda, interpretada como ação em caráter de urgência. O encontro está previsto para acontecer nesta segunda-feira (19).
“Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e faz isso ao mesmo tempo que defende o direito internacional”, rebateu o Netanyahu.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, escreveu: “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Ordenei aos funcionários do meu gabinete que convoquem o embaixador do Brasil para uma repreensão amanhã (segunda-feira)”.
As declarações de Lula foram feitas durante entrevista a jornalistas no hotel em que ele está hospedado em Adis Abeba, capital da Etiópia. Lula, que retorna neste domingo ao Brasil, foi convidado para discursar, no último sábado, na sessão de abertura da cúpula da União Africana. Ele também teve reuniões bilaterais com líderes do continente e com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou tanto Israel quanto o Hamas.
Neste domingo, porém, Lula comparou o desastre humanitário em Gaza ao Holocausto ao criticar países ricos que suspenderam o financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês). As doações foram interrompidas após o governo israelense denunciar que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro.
‘Distorção perversa da realidade’
O presidente do Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, Dani Dayan, repudiou as declarações de Lula. Em publicação no X (antigo Twitter), afirmou que as ‘vergonhosas palavras’ do líder brasileiro são uma ‘escandalosa combinação de ódio e ignorância’. Além disso, disse que, segundo a definição da Aliança Internacional de Memória do Holocausto, trata-se de ‘uma clara expressão antissemita’.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também criticou as falas do presidente. Para o órgão, trata-se de “distorção perversa da realidade” que “ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes”. Nas redes sociais, a Conib escreveu que “Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu”.
Em seguida, a Conib ainda afirmou que “o governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região não seja importada ao nosso país.”
Esta não é a primeira vez que posicionamentos de Lula sobre a guerra na Faixa de Gazaincomodam os israelenses. Em janeiro, por exemplo, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, lamentou o apoio brasileiro à ação movida pela África do Sul contra o Estado de Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Os sul-africanos acusam as autoridades israelenses de cometerem um “genocídio” contra os palestinos na Faixa de Gaza.
O próprio Zonshine já foi alvo de aliados do governo após participar, no fim do último ano, de um encontro na Câmara dos Deputados ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, principal adversário político de Lula.
Oposição critica fala
Em Brasília, a oposição reagiu negativamente à fala de Lula. O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) apresentou uma moção de repúdio ao presidente, e o o deputado Rodrigo Valadares (União-SE) disse que as declarações são “desastrosas” e ofendem a memória dos sobreviventes do Holocausto. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou no X (antigo Twitter) que é “vergonhoso” comparar a operação israelense em Gaza ao Holocausto, e pediu desculpas “ao mundo e a todos os judeus”. O também senador Sérgio Moro (União-PR), disse no X queLula “mancha, mais uma vez, a imagem do Brasil no exterior”.
Parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro também fizeram críticas, como os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) e Bia Kicis (PL-DF), e o senador e ex-ministro bolsonarista Ciro Nogueira (PP-PI). Ex-ministro do governo anterior e advogado do ex-presidente Bolsonaro, Fabio Wajngarten declarou no X que vai conversar com a bancada evangélica na Câmara para reagir à fala de Lula.
O ministro Andre Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi outro a criticar a posição adotada pelo Brasil em relação a Israel durante um culto evangélico na manhã deste domingo. Sem mencionar as declarações de Lula, o magistrado pregou equilíbrio à diplomacia brasileira. Citou, contudo, o endosso brasileiro à uma denúncia feita pela África do Sul à Corte de Haia na qual o país africano acusa os israelenses de “genocídio”.
*Com informações do Conexão Política e O Globo.