O que parecia ficção científica há poucos anos tornou-se realidade na noite da última sexta-feira (19), em Chengdu, China. O astro do pop chinês Wang Leehom surpreendeu o mundo ao dividir o palco de sua turnê “Best Place Tour” com um grupo de dançarinos inusitados: robôs humanoides da Unitree Robotics.
Em um vídeo que já acumula milhões de visualizações nas redes sociais e chamou a atenção até de Elon Musk, os robôs não apenas acompanharam a coreografia complexa da música “Open Fire”, mas executaram saltos mortais (o chamado Webster flip) em perfeita sincronia, trajando roupas de streetwear brilhantes que se misturavam aos figurinos dos dançarinos humanos.
A performance ocorreu no Chengdu Dong’an Lake Sports Park, diante de uma plateia de 18.000 pessoas. Ao contrário de tentativas anteriores na indústria da música, onde robôs eram frequentemente estáticos ou limitados a movimentos de braço, os modelos apresentados demonstraram uma fluidez assustadora.
Vestidos com calças largas e camisas cintilantes, os androides exibiram um equilíbrio perfeito e “memória muscular” programada que permitiu que se movessem no ritmo exato da música. O clímax da apresentação — um salto mortal frontal executado simultaneamente por várias unidades — gerou gritos de descrença e aplausos estrondosos da multidão.
Na rede social X (antigo Twitter), o vídeo da performance viralizou instantaneamente. Elon Musk, CEO da Tesla e criador do robô Optimus, comentou a publicação com uma única palavra: “Impressionante”.
Os protagonistas mecânicos do show são, ao que tudo indica, unidades do modelo Unitree G1, desenvolvidos pela empresa chinesa Unitree Robotics.
Aqui estão os detalhes técnicos que tornam esses robôs tão especiais:
- Agilidade Sobre-Humana: O G1 é conhecido por sua flexibilidade excepcional. Ele possui articulações avançadas que permitem movimentos de até 360 graus em algumas juntas, possibilitando acrobacias que seriam difíceis até para ginastas olímpicos.
- Aprendizado por IA: Diferente de robôs antigos que seguiam apenas um script rígido, modelos modernos como o G1 utilizam Reinforcement Learning (Aprendizado por Reforço) e simulação em IA para “aprender” a se equilibrar e recuperar de quedas ou empurrões em tempo real.
- Custo Acessível (para um robô): Enquanto robôs humanoides de competidores ocidentais podem custar centenas de milhares de dólares, o Unitree G1 foi anunciado com um preço base em torno de US$ 16.000 (aprox. R$ 90.000), visando a produção em massa.
- Sensores Avançados: Equipados com LiDAR 3D e câmeras de profundidade, eles conseguem mapear o palco e os outros dançarinos para evitar colisões, permitindo uma interação segura e próxima com os humanos.
A arte na era da substituição
Os robôs dançando com precisão cirúrgica ao lado de humanos levanta um debate inevitável e desconfortável: estamos vendo o início da obsolescência humana também na arte?
Até recentemente, acreditava-se que a criatividade e a expressão corporal seriam os últimos bastiões seguros contra a automação. Trabalhos repetitivos de fábrica seriam das máquinas; a dança, a música e a poesia, dos humanos. O show de Wang Leehom desafia essa fronteira.
Defensores da tecnologia argumentam que os robôs são, neste contexto, apenas ferramentas sofisticadas — como uma guitarra elétrica ou um painel de LED. Eles ampliam o espetáculo, trazendo uma estética futurista que complementa o talento humano, sem substituí-lo. A frieza do metal, dizem, serve para realçar o calor e a emoção do cantor humano.
Por outro lado, a perfeição técnica dos robôs traz o risco da padronização da arte. Um robô nunca se cansa, nunca erra o passo e nunca pede aumento. Para a indústria do entretenimento, que movimenta bilhões, a tentação de substituir corpos de baile inteiros por máquinas incansáveis pode ser econômica, mas culturalmente empobrecedora.
Se um robô pode executar um salto mortal melhor do que um humano, o que resta para nós? Talvez a resposta esteja na imperfeição. A arte humana conecta-se com o público justamente através da vulnerabilidade, do suor e da paixão — elementos que, por enquanto, nenhum código de programação conseguiu replicar com autenticidade.
O show em Chengdu foi, sem dúvida, um marco tecnológico. Resta saber se, no futuro, aplaudiremos os robôs como parceiros de palco ou se estaremos na plateia assistindo-os assumirem o show inteiramente.
Olga Cruz
Com informações de Redação de Tecnologia e Cultura Chengdu, China / Vídeo @brmetaverso





