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Conheça Helen Jacintho, presidente do ForbesMulher Agro

“Não estamos aqui a passeio. O grupo existe para discutir o setor e os rumos do setor. Proximidade é poder”, afirmou a pecuarista e engenheira de alimentos Helen Jacintho, no encontro que reuniu cerca de 40 mulheres para a criação do grupo ForbesMulher Agro, na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).


A frase dita em tom firme faz parte da personalidade de uma mulher que aos 49 anos divide a gestão de fazendas no interior de São Paulo e Goiás: a Continental, em Barretos, e a Regalito, em Flores de Goiás, respectivamente. O gado criado em sistema intensivo – confinado e semiconfinado –, com reaproveitamento de resíduos para a produção de biogás, é a principal atividade, mas o negócio também envolve o cultivo de cana de açúcar, grãos, seringueira e teca.

Mas quem, de fato, é Helen Jacintho, a liderança feminina que a Forbes Brasil convidou para estar à frente de seu projeto ForbesMulher Agro? Sua história vai de um início tímido, mas contundente, passando por um frenético aprendizado, inclusive fora do Brasil, à ocupação de espaços nas fazendas que hoje dependem de sua constante atuação.

Mãe de dois meninos, hoje adultos, e dividindo o tempo entre as fazendas e a cidade, Jacintho lembra de quando o agro definitivamente entrou na sua vida. “Acabamos morando na Continental por mais de 15 anos”, diz ela. “Vivendo na fazenda, a casa se torna uma extensão de tudo que está acontecendo na propriedade e nossa mesa é sempre cheia de técnicos, agrônomos, veterinários.”

No Brasil atual, cerca de 1 milhão de mulheres estão à frente do trabalho nas fazendas e outro tanto divide as tarefas com seus companheiros, como mostra o Censo Demográfico de 2017 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que, por força do tempo, provavelmente está desatualizado e hoje esses números podem estar mais robustos em favor da mulheres.

A história de Jacintho faz eco com a de muitas mulheres, nas últimas décadas, que entraram no negócio por meio de tarefas administrativas. No seu caso, com feitos ligados à criação de gado da raça brahman. “No início, me ocupava mais diretamente na seleção genética de gado brahman. Organizava os leilões, catálogos, comentários, DEPs e etc. Eu me dedicava realmente, tirava todas as fotos, fazia os anúncios das revistas. Já tive fotos estampadas até em capas de revistas internacionais especializadas.”

Jacintho pegou o canudo de engenheira em 1996, aos 22 anos. Ela diz que a proporção entre homens e mulheres era de meio a meio em seu curso. “Mas havia menos homens porque muitos achavam que a engenharia de alimentos tinha a ver com nutrição”, afirma. “Não me lembro de discutirmos temas femininos, mas na minha turma as mulheres eram bem proativas e tive algumas professoras muito inspiradoras.”

A presença de mulheres nas engenharias e em cursos como administração e direito foi um processo iniciado em meados dos anos 1970 e que se intensificou a partir de 2010, com a criação da ONU Mulheres, uma entidade das Nações Unidas. Historicamente, o incentivo às mulheres era pelas profissões consideradas “cuidadoras”. Não por acaso, uma rápida olhada pelos cargos c-level ainda hoje tem o domínio de profissionais com educação inicial diversa dessa linha.

O movimento da ONU, em todas as conferências mundiais sobre mulheres, colocava a educação como um dos pontos de virada. Dois momentos são históricos nessa visão: a primeira convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres, de 1979, um tratado internacional que veio a ser ratificado em 1981 por 188 países, e o tratado internacional aprovado na conferência de Pequim, em 1995, com sua plataforma de ações na qual a educação é um dos pilares.

Jacintho lembra de uma passagem nos anos 2000 que intensificou seu aprendizado nas tomadas de decisão. Na época, ela integrou um grupo chamado G7, que era formado por sete mulheres criadoras de gado brahman. Essas mulheres passaram a promover um leilão de gado, o Mulheres do Brahma, durante a Expozebu, a principal feira desse tipo de animal no mundo, realizada todos os anos em Uberaba (MG). 

“Para fazer melhor meu trabalho, para entender melhor sobre gado e morfologia, fiz o curso de juiz e morfologia da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu) e me lembro da emoção de ser convidada para julgar a matriz padrão da raça brahman em plena Expozebu”, afirma. Hoje, sua fazenda não participa mais de julgamentos de animais de elite e a criação é toda a pasto, mas para ela esse tempo foi de avanço na sua formação.

Outro momento nessa direção se deu a partir de 2012, quando Jacintho e o marido Bruno se mudaram para os EUA, onde permaneceram por dois anos, e lá foi ela novamente. “Aproveitei para estudar inglês e business para entrepreneurs na Universidade do Colorado”, afirma. “Voltamos cheios de planos e novos projetos, construímos um confinamento anexo junto com um biodigestor para aproveitamento dos resíduos, um projeto que me encanta pela sustentabilidade e por ser um ciclo fechado produzindo biogás e biofertilizante.”

Atualmente, esse é um projeto na fazenda paulista que deve avançar para Goiás. “Estamos em processo de implementação de um novo sistema de gestão, preparando a fazenda para a transição de pecuária para fazer também agricultura, como já fazemos em São Paulo.” Jacintho atua hoje em todos os projetos e áreas de negócio da família, mas se diz uma apaixonada pela implementação do sistema de gestão chamado método Lean, ou Lean Manufacturing, mais conhecido como sistema Toyota de produção, criado pela marca japonesa de veículos lá nos anos 1950 e que visa a organizar processos e eliminar desperdícios de todo tipo, seja tempo, segurança, retrabalho e material.

“A fazenda está se tornando mais organizada, os funcionários trabalham mais felizes, pois os processos estão mais estruturados, e desta maneira a operação é mais enxuta e eficiente”, diz Jacintho. “Me dá uma satisfação enorme tocar este projeto.” Na foto acima, ela está com parte da equipe de peões no final de um dia de serviços de limpeza dos ambientes na fazenda, indo aos cantos mais remotos da propriedade que, a princípio, poderia passar batido. Para a equipe, o conhecimento cabe em todo lugar, do confinamento à lavoura, do escritório  a uma pocilga destinada ao consumo de leitões na propriedade. Aliás, a foto acima é do dia 5S na pocilga. Lembrando que a metodologia 5S tem esse nome por conta dos cinco sensos propagados: Seiri (Utilização), Seiton (Organização), Seiso (Limpeza), Seiketsu (Padronização) e Shitsuke (Autodisciplina), levando não apenas à mudança física de um ambiente, mas também a uma mudança de valores.

Mas não é só isso, Jacintho também é conselheira do Cosag (Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, foi diretora do Núcleo Feminino do Agronegócio, primeira associação de mulheres do agronegócio, é co-fundadora e conselheira da associação DeOlho no Material Escolar e, claro, a partir deste ano se tornou a primeira presidente do grupo Forbes Mulher Agro, um think tank em construção, em paralelo à sua contribuição como colunista ForbesAgro nos últimos dois anos.

*Forbes Agro

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