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Depois de viver nas ruas, venezuelana lidera espaço de acolhimento e enfrentamento à violência 

Os dias de Nilsa parecem ser curtos diante da intensidade do seu desejo em ver cada vez mais mulheres informadas e preparadas para enfrentar a violência baseada no gênero. Há cinco anos, quando chegou ao Brasil vinda da Venezuela, ela se viu em situação de extrema vulnerabilidade. Da experiência difícil, nasceu a motivação, e hoje, ela lidera o projeto Valientes pela Vida, que acolhe venezuelanas e venezuelanos que chegam ao Brasil em busca de uma vida livre de violência e com acesso a direitos fundamentais, como moradia, alimentação e saúde.

Sem rede de apoio em Roraima, ela viveu por um mês em situação de rua, onde não são raras as situações de violência. Nilsa chegou ao Brasil em busca de tratamento médico, acompanhada do marido e do neto. “Era questão de viver ou morrer. Optei por viver”, afirma. Foi nas ruas da capital, Boa Vista, que ela começou a criar sua rede de contatos e de apoio. Quando conseguiu se estabelecer, alugou uma casa simples, onde passou a receber pessoas venezuelanas que, assim como ela, deixaram seus lares em busca de condições dignas de sobrevivência – em especial, aquelas que buscam por tratamentos de saúde no Brasil.

“Com a pandemia, no tempo em que as fronteiras ficaram fechadas, nosso fluxo diminuiu, mas a casa já atendeu muitas pessoas, cerca de 110 até hoje. Acolhemos todos aqueles que precisam de ajuda para tratamentos de saúde”, conta. Para a manutenção da casa, Nilsa recebe apoio de parceiros que atuam na ajuda humanitária e doações, que nem sempre são fixas.

Conhecimento e ação – No período em que esteve em situação de rua, a violência contra mulheres e meninas chamou a atenção de Nilsa. Da inquietação, nasceu a vontade de agir. “Como mulher, esse tema me compete”, resume de maneira enfática.

Por meio da atuação da ONU Mulheres, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em Roraima, Nilsa teve acesso a capacitações que a prepararam para ajudar a identificar situações de violência de gênero, conhecer os recursos legais e os locais de atendimento às vítimas, assim como os canais de denúncia.

“Fui me preparando em oportunidades de capacitação que as organizações ofereciam, como o curso que abordou o enfrentamento da violência contra as mulheres. Esse curso me ajudou a avançar muito como ser humano, a me defender, a ajudar outras mulheres que estão vivendo momentos delicados e de tensão a se defenderem também”, explica. Os cursos citados por Nilsa fazem parte de uma série de capacitações oferecidas desde 2018 pelas agências da ONU em Roraima, com o apoio do Governo de Luxemburgo, para mulheres refugiadas e migrantes venezuelanas.

Munida de informação e de uma potente rede de contatos, ela começou a agir. Hoje, ela reforça as ações locais de prevenção, identificação, denúncia e enfrentamento da violência contra as mulheres, compartilha seus conhecimentos sobre a Lei Maria da Penha e, sempre que necessário, acompanha mulheres no processo de acolhimento e proteção. “Com as informações que passamos, as pessoas podem ajudar outras mulheres. É importante que mulheres se relacionem com esse tema, pois quanto mais sabemos, mais temos vontade de aprender”, ressalta.

Embora o trabalho de Nilsa tenha começado com a proposta de acolher pessoas que, assim como ela, chegaram ao Brasil por Roraima em busca de tratamento médico, hoje em dia sua atuação vai muito além disso. “Onde temos oportunidade, transmitimos as informações sobre violência contra a mulher e saúde sexual. Falamos em praças, nas ruas, em casas, em carros de aplicativos de transporte, onde for preciso”, revela.

Comerciante quando ainda vivia na Venezuela, Nilsa conta que já era engajada em ações de defesa da saúde, mas diz que o trabalho desenvolvido no Brasil nos últimos anos renovou sua esperança em viver. “Valientes pela Vida é uma escola de aprendizagem do sentimento humanitário”, traduz, em sua visão, o significado do projeto.

Redação

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