As águas de março se foram deixando uma triste marca para Mato Grosso do Sul e para o Brasil. Em MS, o mês fechou com mais uma mulher vítima de feminicídio, Alessandra da Silva Arruda, de 30 anos, assassinada com golpes de faca de açougueiro pelo companheiro Venilson Marques, na manhã do último sábado, 29 de março. Nos primeiros três meses de 2025, sete mulheres foram assassinadas por seus parceiros em nosso Estado.
O caso do assassinato de Vanessa Ricarte escancarou as portas do ciclo de violência que mulheres vêm sofrendo, e revelou algumas falhas no atendimento às vítimas de violência doméstica. Problemas que fizeram com que o Governo de MS, juntamente com Poderes do Estado e o Governo Federal se mobilizassem numa força-tarefa e tomassem novas medidas de enfrentamento a essa violência e de acolhimento às vítimas.
Confesso que não queria estar aqui, novamente escrevendo sobre isso, tendo que falar sobre o assassinato de Alessandra, vítima de um algoz que deveria ser o seu maior protetor, seu então companheiro.
Como mãe de ‘dois homens de verdade’, digo homens de verdade porque sei a boa criação e o bom exemplo que meus filhos sempre tiveram e têm de mim e do pai. Depois de tantos casos em que mulheres estão sendo as maiores vítimas, me pergunto: Onde iremos parar? O que está acontecendo? Por que tanta violência contra as mulheres neste País?
Dados que aterrorizam
Conforme informações que serão mostradas na noite desta terça-feira, 1º de abril, no programa Profissão Repórter (Globo), no Brasil quase 1.500 mulheres ao ano, são vítimas de feminicídio, um dado que assusta! Quem dera que no dia que é considerado o Dia da Mentira, todo esses dados fossem realmente mentiras… mas, infelizmente, não são.
Em 2024, foram registrados 1.450 casos de feminicídio no País, um aumento de 12 casos em relação ao ano anterior, conforme aponta o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, divulgado pelo Ministério das Mulheres.
Além dos feminicídios, a violência sexual contra mulheres também apresentou números alarmantes. Em 2024, foram registrados 71.892 casos de estupro de mulheres no Brasil, o que equivale a uma média de 196 estupros por dia!
Estudos indicam que a maioria dos feminicídios é cometida por parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Entre janeiro e junho de 2024, 42% dos feminicídios consumados foram perpetrados por parceiros íntimos, e 23% por ex-parceiros.
A ausência de denúncias prévias também é um fator preocupante. No primeiro semestre de 2024, 81% das vítimas de feminicídio consumado não haviam registrado denúncia contra seus agressores antes do crime.
Tornozeleira eletrônica
Em resposta ao crescente número de casos de violência contra a mulher, o Senado Federal aprovou recentemente um projeto de lei que permite o monitoramento de agressores por meio de tornozeleiras eletrônicas. O objetivo é assegurar o cumprimento de medidas protetivas em casos de violência doméstica e familiar. Além disso, o texto prevê que tanto a vítima quanto a polícia sejam alertadas em caso de aproximação indevida do agressor, reforçando a proteção e a segurança das mulheres em situação de risco.
A implementação dessa medida busca fortalecer as ações preventivas e garantir que as determinações judiciais sejam efetivamente cumpridas, oferecendo uma camada adicional de segurança para as vítimas de violência doméstica.
A adoção de políticas públicas eficazes e a conscientização da sociedade são fundamentais para a redução dos índices de feminicídio e para a promoção de uma cultura de respeito e igualdade de gênero no Brasil.
De tudo isso, a verdade é que as águas de março, que deveriam trazer renovação e esperança, deixam um rastro de dor e violência para milhares de mulheres no Brasil e em Mato Grosso do Sul. No mês que simboliza a luta e a resistência feminina, os números do feminicídio ecoam como gritos sufocados, histórias interrompidas, vidas arrancadas pelo machismo e pelo ledo engano da impunidade.
Que essas mesmas águas possam também ser correntezas de mudança. Que cada lágrima derramada seja transformada em força, em justiça, em políticas eficazes. Que a luta das que se foram não tenha sido em vão e que o mês da mulher não seja lembrado apenas por estatísticas de sangue, mas por conquistas e pela certeza de que toda mulher tem sim o direito de viver sem medo!
Olga Cruz





