Jorge Mariano Bergoglio, o Papa Francisco, líder da Igreja Católica e primeiro pontífice latino-americano, faleceu na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, no Vaticano. O anúncio foi feito pelo Camerlengo da Câmara Apostólica, cardeal Kevin Farrell, às 7h35 (horário local, 2h35 de Brasília), na Casa Santa Marta. A morte encerra um pontificado de 12 anos marcado por reformas, defesa dos pobres e diálogo inter-religioso. A causa oficial da morte não foi detalhada, mas Francisco vinha enfrentando problemas de saúde, incluindo uma pneumonia bilateral que o deixou internado por 38 dias entre fevereiro e março deste ano.
Última aparição no Domingo de Páscoa
No domingo, 20 de abril, Papa Francisco fez sua última aparição pública durante as celebrações de Páscoa na Praça de São Pedro, no Vaticano. Apesar de sua saúde fragilizada, o pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para proferir a tradicional bênção Urbi et Orbi (“à cidade e ao mundo”). Com a voz enfraquecida, ele saudou os cerca de 35 mil fiéis presentes com um “Irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!”, arrancando aplausos e vivas da multidão. Devido à sua condição, Francisco não celebrou a Missa de Páscoa, que foi presidida pelo cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica.
Durante a aparição, que durou pouco mais de 20 minutos, o Papa pediu a um assessor que lesse sua mensagem pascal. No discurso, Francisco denunciou a “dramática e indigna crise humanitária” em Gaza, apelando por um cessar-fogo, a libertação de reféns pelo Hamas e ajuda às vítimas do conflito. Ele também expressou preocupação com o “crescente clima de antissemitismo” no mundo e reiterou a necessidade de liberdade religiosa e de expressão para a construção da paz. “Expresso minha proximidade aos sofrimentos de todo o povo israelense e do povo palestino”, dizia o texto.
Após a bênção, Francisco surpreendeu os fiéis ao percorrer a Praça de São Pedro em seu papamóvel, distribuindo bênçãos e doces às crianças. O momento, cercado de aplausos e orações, foi descrito como emocionante, com muitos fiéis segurando bandeiras nacionais e gritando “Viva o Papa!”. A breve volta no papamóvel foi um dos últimos gestos de proximidade com o povo, característica marcante de seu pontificado.
Contexto de saúde e atividades recentes
Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, Argentina, em 17 de dezembro de 1936, enfrentava problemas de saúde recorrentes. Em fevereiro de 2025, ele foi internado no Hospital Gemelli, em Roma, com bronquite, que evoluiu para uma infecção polimicrobiana e pneumonia bilateral. Durante os 38 dias de internação, o pontífice sofreu dois episódios de insuficiência respiratória aguda, esteve à beira da morte em duas ocasiões e precisou de ventilação mecânica não invasiva. Ele recebeu alta em 23 de março e, desde então, seguia em recuperação, com aparições públicas limitadas.
Na Semana Santa, Francisco participou de poucos eventos. Seu único compromisso oficial foi uma visita na Quinta-feira Santa a uma prisão em Roma, onde se encontrou com cerca de 70 detentos, mantendo a tradição de celebrar o lava-pés com os marginalizados. No sábado, ele fez uma breve aparição na Basílica de São Pedro para rezar diante da imagem da Virgem Maria, cumprimentando fiéis e distribuindo doces. Durante a Páscoa, ele não esteve presente na Via Sacra no Coliseu nem na Vigília Pascal, delegando as cerimônias a outros clérigos.
Horas antes de sua morte, Francisco se reuniu com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, no Vaticano. O encontro, que abordou saudações pascais, ocorreu em meio a críticas anteriores do Papa às políticas migratórias do governo Trump, das quais Vance é defensor.
Repercussão e próximos passos
A morte de Francisco foi recebida com mensagens de pesar ao redor do mundo. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou sua “humildade e amor pelos menos afortunados”, afirmando que ele “inspirou milhões além da Igreja Católica”.
O Vaticano anunciou que os ritos fúnebres começarão nas próximas horas. Às 15h (horário de Brasília), o cardeal Farrell presidirá o rito de constatação da morte e deposição do corpo no caixão, na Casa Santa Marta. Uma missa de sufrágio será celebrada às 14h na Basílica de São João de Latrão. A trasladação do corpo para a Basílica de São Pedro, onde os fiéis poderão se despedir, está prevista para quarta-feira, 23 de abril. Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, conforme seu desejo, em um gesto que rompe com a tradição de enterros na Basílica de São Pedro.
Com a morte do Papa, inicia-se o período de sede vacante, durante o qual o Colégio de Cardeais se reunirá para organizar o conclave que escolherá o novo pontífice. A Igreja Católica, com seus 1,4 bilhão de fiéis, entra agora em um momento de luto e transição, enquanto o legado de Francisco, marcado pela tolerância, simplicidade e abertura, continua a ecoar.
Olga Cruz
*Com informações do G1, CNN e The Guardian