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Por que a sociedade não deixa que as mulheres envelheçam em paz? 

Não importa se com procedimentos estéticos ou sem eles, sempre tem alguém para nos julgar. E mais: o metaverso chegou na discussão para somar às paranóias.

Era mais um dia qualquer da minha semana e fui surpreendida por um link que minha mãe me encaminhou, dizendo que a cantora Rosana Fienngo iria abandonar a carreira artística. O motivo? Críticas a sua aparência. Em seu perfil nas redes sociais, ela escreveu: “Já mais me atacam do que me aceitam”. Ela, aos 68 anos, infelizmente não está sozinha. Quantas vezes Maria Gretchen, 63, não foi julgada pelos procedimentos que decidiu fazer? Ou pelas roupas? O último bafafá foi o rejuvenescimento vaginal. Lá fora, nada de diferente. Madonna, 64, por exemplo, já foi chamada a atenção por não envelhecer graciosamente” na frente das câmeras.

Seria muito fácil, para mim, aqui nos meus 42 anos, pensar “eu nunca vou fazer isso, credo”. Só que a questão é outra. Nós, mulheres, não podemos envelhecer, nem  fazendo procedimentos, nem escolhendo não fazê-los. De qualquer jeito, você estará errada. 

Super ativista do termo pro-aging, a atriz Jamie Lee Curtis diz que se cansou da indústria da beleza, feita para esconder celulite, linhas, rugas, poros, olheiras, manchas… Ela menciona que, desde seus 11 anos, precisou “murchar a barriga”. Agora, aos 63, ela quer envelhecer “com inteligência, graça, dignidade e energia”. Mas, é certo dizer que Madonna está errada e Jamie Lee coberta de razão? Antes de virar a cara para uma delas, eu me pergunto: por que o corpo da mulher é um lugar tão permeável que qualquer um pode dizer algo a respeito? Por que pessoas se acham no direito de emitir agressões fantasiadas de “opinião”?

O fato é que, até o começo do século 20, a expectativa de vida era entre 50 e 60 anos. Hoje, isso gira em torno de 70 a 80 anos para as mulheres no Brasil. A menopausa, antes, marcava o fim da vida; agora, temos mais 30 anos ativos após o período. Tudo isso somado ao fato de que estamos envelhecendo numa sociedade pautada pela imagem. Por isso, teremos que segurar o tchan (referência antiga, eu sei) antes de sair emitindo opinião sobre o rosto alheio e conversar com os nossos pensamentos julgadores. Nessa hora, diria a você para fazer valer algo que minha mãe sempre me disse: “envelhecer todas nós iremos, a outra opção é morrer”. Contudo, em 2022, com o metaverso batendo à nossa porta, talvez essa máxima já não esteja assim, tão em alta.

Pense bem, é muito fácil ignorar o passar do tempo, fazer as malas e ir para esse lugar abstrato, criando sua outra-eu virtual. Algumas famosas já migraram para a versão em pixels. E as marcas já não dependem mais das influencers para conversar com seu público: montaram avatares femininos que nunca envelhecem, trabalham 24/7, não têm férias e seguem sorrindo, falando a coisa certa, sem risco de cancelamento.

Existem também os avatares de influenciadoras que podem ser contratadas: mulheres jovens, em sua maioria brancas e magras, que podem ser aplicadas sobre todo e qualquer fundo. Criadas como contas reais, interagindo com seguidores reais, influenciando seus comportamentos de consumo. 

E agora? Como fica essa questão para nós que vivemos do lado de cá do óculos de realidade virtual, lidando com um corpo que apresenta suas limitações? É fundamental permitir que cada mulher decida como quer viver a passagem do seu tempo, seja se rendendo ao sistema de avatarização ou aceitando “graciosamente” o passar dos anos. É urgente que se quebre esse olhar julgador para conosco e com as outras. Só assim venceremos o sistema. (fonte: Revista Cláudia – texto Vanessa Rolzan). 

Redação 

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