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A rainha do rock brasileiro descansou

Uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, Rita Lee morreu na noite de segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”. O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Nascida em 31 de dezembro de 1947, Rita começou a se interessar por música ainda na adolescência ao participar de vários conjuntos musicais adolescentes. Em 1965, conheceu os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, uma amizade que revolucionaria a música brasileira. Com influências dos britânicos dos Beatles e do rock vindo dos Estados Unidos, o trio formaria no ano seguinte o grupo Os Bruxos, logo depois rebatizado de Os Mutantes, inspirado na ficção científica O Império dos Mutantes, de Stefan Wul. O nome foi sugerido por outro amigo da turma, o cantor Ronnie Von, à época apresentador do dominical O Pequeno Mundo de Ronnie Von, transmitido pela TV Record, onde a banda estreou em 15 de outubro de 1966. No ano seguinte, eles surpreenderam o país com uma apresentação memorável no III Festival da Música Brasileira, também na Record, acompanhando Gilberto Gil na música Domingo no Parque.

O primeiro álbum com os Mutantes foi lançado em 1968 e contou com hits como Baby (de Caetano Veloso), A Minha Menina (de Jorge Ben) e Bat Macumba (de Caetano e Gilberto Gil). No mesmo ano, a banda participaria também do lançamento de um dos momentos mais emblemáticos da música brasileira, a Tropicália, com o álbum Tropicália ou Panis Et Circencis, com a participação de Caetano, Gil, Gal Costa, Tom Zé e Nara Leão. Com canções psicodélicas e o uso inovador e criativo de vários objetos como instrumentos musicais, os discos seguintes dos Mutantes entrariam para a história da música brasileira, como A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970), Jardim Elétrico (1971) e Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets (1972). Até hoje, esses discos são influentes e cultuados no exterior.

Em 1968, Rita se casou com o colega de banda Arnaldo Baptista, mas o relacionamento foi marcado por traições de Baptista e brigas. Em 1972, ela acabou expulsa da banda pelo próprio músico, marcando também o fim da formação clássica dos Mutantes. Com a saída da cantora, a banda perdeu o rumo, enquanto Rita engatou uma nova e fértil carreira musical no ano seguinte com a formação da banda Tutti Frutti, com Lúcia Turnbull, o guitarrista Luis Sérgio Carlini e o baixista Lee Marcucci. São desse período algumas das canções mais lembradas da artista, como Agora Só Falta Você, Esse Tal de Roque Enrow e Ovelha Negra. Esta última música, aliás, se tornou um dos hinos das meninas durante os anos da ditadura militar, com o marcante verso “foi quando meu pai me disse filha / você é a ovelha negra da família”.

Aos 28 anos, em 1976, Rita conheceu o guitarrista Roberto de Carvalho, por quem se apaixonou e que se tornaria seu maior parceiro musical e de vida até o fim. Rita ainda lançou mais um álbum com o Tutti Frutti, porém em 1978 decidiu seguir carreira solo, tendo como inseparável companheiro o marido Roberto de Carvalho. Vêm dessa época grandes sucessos como Mania de Você, Chega Mais, Doce Vampiro, Lança Perfume, Nem Luxo Nem Lixo e muitos outros. Sobre um de seus maiores sucessos, Baila Comigo, disse a VEJA, também em 2020, que a canção foi composta em um sonho. “Ela me veio inteirinha em sonho, letra e melodia. Quando acordei, anotei a letra e fiz a harmonia no violão. Sinto que Baila Comigo foi um sopro vindo de alguma entidade indígena”.

Nos anos seguintes, Rita seguiu fazendo shows, lançando discos e se dedicando a outros trabalhos, como o de escritora. Lançou diversos livros infantis do personagem Dr. Alex, além de uma autobiografia. Em 1995, ela foi convidada para abrir o show da banda Rolling Stones no Brasil. O último disco de estúdio, Reza, saiu em 2012 e dali em diante a cantora decidiu desacelerar, se isolou em sua casa, cuidando de seus animais e de suas plantinhas. “Desde que deixei os palcos, há oito anos, vivo confinada na minha toca, numa casinha no meio do mato cercada de bichos e plantas, só saindo para ir ao dentista, fazer supermercado, comprar ração para meus animais e, eventualmente, visitar meus netos. Hoje, faço tudo pela internet e rezo para não quebrar um dente”, disse à Revista VEJA..

Os últimos anos foram especialmente desafiadores para a cantora. Em 2021, ela foi diagnosticada com o câncer de pulmão e, de maneira bastante irônica, disse ter batizado o tumor de Jair — referência, claro, ao então presidente Jair Bolsonaro, que encarnava a chegada ao poder do reacionarismo empedernido contra o qual ela se bateu a vida toda. No mesmo ano, Rita inaugurou uma mega exposição da carreira no MIS, em São Paulo, e lançou também uma música inédita, Change. No ano passado, foi homenageada no Grammy Latino com o prêmio Lifetime Achievement Award pelo conjunto de sua obra artística.

Redação

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