É impossível apontar somente um tipo de religião específica em um País que, apesar de que em sua maioria denomina-se cristão, também é rico em diferentes crenças, oriundas da colonização de diversos povos e culturas que se misturam e, que fazem do Brasil um polo do sincretismo religioso. Por isso, neste domingo, 23 de abril, é a data escolhida para celebrar o dia de São Jorge, também conhecido como Jorge da Capadócia e Jorge de Lida.
Presente em letras de música, sambas-enredos e referência até no futebol como padroeiro do Corinthians, o santo é cultuado pela igreja católica, tanto ortodoxa como anglicana, bem como nas religiões de matriz africana na figura de Ogum, Orixá do ferro, da guerra, da caça e da agricultura.
Em toda imagem, São Jorge aparece montado em um cavalo branco, com uma uma lança, diante de um dragão cuspindo fogo. Hoje padroeiro em países como Inglaterra, Geórgia, Etiópia, Lituânia, Sérvia e Montenegro, ele é visto como um cavaleiro e como um santo guerreiro, ligado à superação.
Dia de São Jorge é também comemorado localmente em Newfoundland (Canadá), no Rio de Janeiro, na Catalunha (região espanhola) e em Adis Abeba (pela Igreja Copta Ortodoxa Etíope).
No Rio de Janeiro, o dia de São Jorge, feriado estadual, é um dia de festas populares, celebrado com feijoadas, queima de fogos, entre outras.
Já na Bahia, o sincretismo de São Jorge se deu com Oxóssi, também de forma compreensível, pois é o Orixá da sobrevivência, da caça dos animais, da fartura, do sustento.
Para entender o motivo pelo qual Jorge é celebrado em tantos locais, é importante conhecer sua história. O doutor e professor do Programa de Pós-Graduação em História e Teologia da PUCRS Edison Hüttner explica que Jorge nasceu na Capadócia, em 275 d.C, e serviu ao exército na região da Turquia na época do imperador Diocleciano. “Ele existiu de verdade, não é um mito. Era um soldado romano que se converteu ao cristianismo”, explica.
Conforme Hüttner, naquela época, o cristianismo não era considerado uma religião oficial. Seus seguidores eram, inclusive, perseguidos. Porém, Jorge se identificava com a crença e decidiu segui-la.
“Diocleciano queria dar títulos (a Jorge) para que ele deixasse o cristianismo. Mas, como ele não deixou e continuou firme na sua fé, foi degolado pelo imperador”, conta o professor.
Sendo assim, dia 23 de abril, nada mais é do que a data da morte do santo guerreiro, que aconteceu em 303 d.C. O túmulo de São Jorge encontra-se na cidade de Lida, em Israel, local em que o Imperador romano Constantino I mandou construir um oratório aberto aos fiéis.
Lenda do dragão
De acordo com o professor, a representação do santo guerreiro montado em um cavalo branco, enfrentando um dragão com uma lança, tem relação com mitos envolvendo a sua trajetória. Hüttner explica que, durante a Idade Média, começou a circular uma história de que o guerreiro salvou uma cidade de um dragão. A lenda dá conta de que Jorge estava em Silene, na Líbia, quando um homem contou para ele que um dragão que estava matando as pessoas e poderia destruir a cidade.
“O dragão fez uma chantagem: para não destruir a cidade, ele pedia jovens virgens para sacrificar. Porém, não haviam mais meninas na cidade, somente a filha do rei e suas amigas”, explica.
A lenda conta que, no momento em que chegou a vez da filha do rei ser sacrificada, São Jorge matou o dragão com sua lança. Conforme Hüttner, a representação de São Jorge com o dragão representa a luta do bem contra o mal.
“Assim é contada a lenda. Ele é um guerreiro da fé, ele tem armas, ele é soldado, então, ele serve bem para criar um mito que mata um dragão que representa o mal”.
Dia de Ogum
Em 23 de abril é também celebrado o dia de Ogum, orixá guerreiro com origens em religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda. Ogum e São Jorge são representados de forma parecida e, segundo Hüttner, isso representa um sincretismo religioso, mescla entre doutrinas distintas que permanecem com os traços de sua doutrina original.
“Como Ogum é um guerreiro, que não foge das batalhas e que tem uma espada na mão, ele foi representado com a figura de São Jorge, que é um guerreiro. Tem a mesma personalidade, o mesmo caráter, a mesma função do Ogum, que é um orixá, cultuado na candomblé e umbanda”, explica Hüttner.
Conforme o professor, na época da escravidão, quando portugueses tentavam impor o cristianismo, pessoas que seguiam religiões de matriz africana acabaram adaptando figuras à sua religião.
“Como eles poderiam rezar com os portugueses que os estavam maltratando? Então, eles imaginavam um deus deles, que veio da África, que é Ogum, para protegê-los. Eles queriam tirar essa imagem de São Jorge com o dragão, da imagem do português escravista. E, para fazer isso, eles estavam diante de São Jorge, respeitavam a sua história, mas, para eles, representava Ogum”.
Oração
São Jorge, guerreiro vencedor do dragão, rogai por nós. Ó São Jorge, meu guerreiro, invencível na Fé em Deus, que trazeis em vosso rosto a esperança e confiança abra os meus caminhos.
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meusinimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus,
estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas,
defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete
meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Ajudai-me a superar todo o desanimo e alcançar a graça que tanto preciso:
(fazei aqui o seu pedido)
Dai-me coragem e esperança fortalecei minha FÉ e auxiliai-me nesta necessidade.
Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Amém
*Fonte: GZH; Diário Gaúcho; cruzterrasanta.com; BBC e terracotta.com
Olga Mongenot