As 8 araras-canindé que chegaram de São Paulo no início da noite de terça-feira, 11 de abril, já foram levadas para o local de soltura, em uma propriedade rural no município de Miranda. Elas passaram a noite no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande, e na manhã desta quarta-feira (12), seguiram viagem até a nova morada.
“Os exames demonstraram que as aves adultas estão saudáveis e estão aptas para viver livres na natureza”, afirmou a coordenadora do CRAS, Aline Duarte.
As araras foram resgatadas ainda filhotes, vítimas do tráfico de animais silvestres e ficaram quatro anos em um viveiro sob responsabilidade da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente em São Paulo. Nos dois últimos anos passaram por ambientes preparatórios para soltura, onde aprenderam a voar e se aclimatar ao ambiente natural. A soltura será feita de forma branda, elas ainda permanecem alguns dias em um espaço mais amplo, dentro da mata, até adquirirem as condições propícias para a liberdade plena.
A vinda das araras-canindé a Mato Grosso do Sul é um processo de repatriação, já que os filhotes foram levados do Estado por traficantes e resgatados em São Paulo. No ano passado, as autoridades ambientais de São Paulo fizeram contato com a Coordenação do CRAS indagando se havia local para a soltura. “Enviaram todos os exames atestando o estado sanitário das aves e nós aceitamos fazer a soltura, já que o local de origem delas é aqui”, conta Aline.
No avião elas vieram em caixas especiais, compartimentadas para que cada uma tivesse seu espaço. Chegaram no início da noite e foram examinadas por um veterinário e conduzidas até o CRAS onde uma gaiola já havia sido preparada para o pernoite, com água e alimentação disponíveis. Não demonstraram nenhum mal-estar pelo voo e, por isso, já seguiram logo cedo para o destino final, por via terrestre.
Não é comum Mato Grosso do Sul receber araras para soltura, afirmou a coordenadora do CRAS. Há dois anos uma equipe foi até São Paulo buscar papagaios que foram levados por traficantes ainda filhotes e conseguiram chegar à fase adulta para serem repatriados.
Quarentena
O CRAS tem outras 50 araras aguardando o momento de viver em liberdade na natureza, o que não será o destino de todas, infelizmente. “Algumas não conseguem voar, ou por fraturas ou por alimentação inapropriada (quando viviam em cativeiro) que acaba causando atrofia nas asas”, explica a veterinária do CRAS Larissa Alcântara.
Essas são enviadas para zoológicos ou para entidades mantenedoras da fauna. Nunca são doadas para particulares, já que é proibido aos cidadãos criar animais silvestres, salvo situações muito especiais.
“A rotina de tratamento de uma arara, quando chega filhote ou na fase jovem, demanda um processo que demora no mínimo três meses até conseguir voltar à natureza”, conta Alcântara. Primeiro fica 15 dias na quarentena para exames e tratamento de doenças ou ferimentos. Depois passa para o primeiro recinto intermediário onde fica por cerca de um mês.
No segundo recinto intermediário as aves permanecem outros 15 dias. É um espaço um pouco maior e o tempo de estadia ali vai depender se a ave demonstrar que está assimilando suas características silvestres. “Até a gente ver que ela consegue empoleirar. Aquelas que só andam pelo chão ficarão um tempo maior”.
A próxima etapa são dois ambientes bem mais amplos que permitem às araras treinar voo. É o requisito indispensável para provar que conseguem viver em liberdade na natureza. “As solturas acontecem a cada dois meses, em média”, disse Aline Duarte.
Essa foi a segunda desde o início do ano. O CRAS tem cadastrados diversos locais para soltura de animais silvestres que passaram por reabilitação, tanto na região do Pantanal, em Corumbá, Miranda, Rio Negro, como em Jardim e outro municípios do Planalto.
Olga Mongenot