A Sexta-feira Santa é um dos momentos mais solenes do calendário cristão. Celebrada dois dias antes da Páscoa, ela relembra o sofrimento e a morte de Jesus Cristo na cruz. Mais do que uma data religiosa, ela é um convite à reflexão sobre o sacrifício, a redenção e o verdadeiro significado da fé.
Conforme está escrito nos Evangelhos, Jesus foi traído por Judas Iscariotes (Mateus 26:14-16), julgado sob falsas acusações (Mateus 26:59-60) e condenado à morte por Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia. A crucificação ocorreu no Gólgota — também conhecido como “lugar da caveira” (Marcos 15:22).
Mesmo em meio à dor extrema, Cristo demonstrou compaixão e perdão. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34), disse Ele, já pregado na cruz. Essas palavras ecoam até hoje como um símbolo de amor incondicional e misericórdia.
O historiador romano Tácito, em seu Livro XV, capítulo 44, escreveu sobre a execução de Jesus, confirmando a existência real histórica do evento:
“Cristo, de quem o nome teve origem, sofreu a pena extrema durante o reinado de Tibério, pelas mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos”.
O Dia
A Sexta-feira Santa é marcada por um luto simbólico. Em muitas tradições cristãs, o dia é vivido em jejum e oração, com igrejas sem decoração, altares despojados e velas apagadas. É um tempo de recolhimento que remete ao momento em que “houve trevas sobre toda a terra” (Mateus 27:45), do meio-dia até as três da tarde, quando Jesus expirou.
São Jerônimo, um dos primeiros grandes estudiosos da Bíblia, escreveu no século IV:
“Na cruz, Cristo nos ensinou o que é a obediência até o fim, e que o sofrimento pode ser a porta da glória.”
O silêncio da Sexta-feira Santa não é vazio: ele carrega o peso do sacrifício e o prenúncio da vitória sobre a morte.
Em tempos de guerras, desigualdade e intolerância, a mensagem da Sexta-feira Santa continua muito atual. O apóstolo Paulo já dizia:
“Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5:8),
uma lembrança de que o amor divino não espera perfeição, mas oferece redenção gratuita.
A cruz, que foi instrumento de tortura, tornou-se o símbolo de esperança. A morte, antes fim, tornou-se passagem. O sangue derramado é lembrado não com horror, mas com eterna gratidão.
Muito além da religião
Mesmo para quem não segue o cristianismo, a história da Sexta-feira Santa é uma das mais impactantes da humanidade. Ela fala de injustiça, dor, perdão e transcendência. A cruz de Cristo se torna metáfora para toda dor que, quando vivida com amor, transforma-se em redenção.
Como disse o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, que morreu em um campo de concentração nazista:
“Somente o Deus que sofre pode salvar.”
A Sexta-feira Santa é, mais do que uma data: é um espelho para a alma, uma lembrança de que da escuridão pode surgir luz, e que do silêncio mais profundo pode nascer a esperança que nunca morre.
Olga Cruz