De família judia que veio para o Brasil fugindo dos horrores da guerra, a escritora e jornalista brasileira Clarice Lispector é considerada um dos maiores nomes da literatura brasileira do Século XX. Escrevendo em uma linguagem de romance inovador e altamente poética, sua obra se destaca, entre os modelos narrativos tradicionais.
Com poemas e narrativas que contam sobre o seu dia a dia, medos e temores, Clarice Lispector foi mais uma das tantas mulheres que se destacaram e que foram à frente de seu tempo.
Clarice Lispector é considerada uma escritora intimista e psicológica, mas sua produção acaba por se envolver também em outros universos, sua obra é também social, filosófica e existencial.
As histórias de Clarice raramente têm um começo, meio e fim. Sua ficção transcende o tempo e o espaço e os personagens, postos em situações limite, são com frequência femininos, quase sempre situados em centros urbanos.
Clarice Lispector viveu quase duas décadas fora do Brasil e escreveu muitas cartas aos amigos e com olhar cosmopolita, fala nas correspondências sobre os absurdos do cotidiano, as agruras da condição humana e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra “Todas as Cartas” publicada em 2020.
Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, vítima de um câncer de ovário, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.
Vida
Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.
Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome com medo de represálias por serem judeus. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice.
Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife onde Clarice passou sua infância no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos.
Foi aluna do grupo escolar João Barbalho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais o iídiche. Ingressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.
Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite, onde terminou o ginasial. Era frequentadora assídua da biblioteca.
Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito, e empregou-se como redatora da “Agência Nacional”. Depois passou para o jornal “A Noite”. Em 1943 casou-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente. Em 1944 formou-se em direito.
1º obra
Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência e que abriu uma nova tendência na literatura brasileira.
O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da época. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia.
A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida da crítica e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido, diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice ingressou, como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira.
Em 1946, morando em Berna, Suíça, publicou “O Lustre”. Em 1949 publicou “A Cidade Sitiada”. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever contos e em 1952 lançou Alguns Contos.
Depois de seis meses na Inglaterra, em 1954, o casal foi para Washington, Estados Unidos, onde nasceu seu segundo filho, Paulo. Nesse mesmo ano, seu livro “Perto do Coração” é publicado em francês.
Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos. Logo começou a trabalhar no “Jornal Correio da Manhã”, assumindo a coluna “Correio Feminino”.
Em 1960 trabalhou no “Diário da Noite” com a coluna “Só Para Mulheres” e nesse mesmo ano lançou Laços de Família, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
Em 1967 publicou O Mistério do Coelhinho Pensante, seu primeiro livro infantil, que recebeu o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança.
Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice Lispector sofreu várias queimaduras no corpo e na mão direita. Passou por várias cirurgias e viveu isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publicou crônicas no Jornal do Brasil.
Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.
Em 1977 Clarice Lispector escreveu “Hora da Estrela”, sua última obra publicada em vida, no qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande. (Informações e- Biografia – Imagens Arquivo Nacional).
Obras
Perto do Coração Selvagem, romance (1944);
O Lustre, romance (1946);
A Cidade Sitiada, romance (1949);
Alguns Contos, contos (1952);
Laços de Família, contos (1960);
A Maçã no Escuro, romance (1961);
A Paixão Segundo G.H., romance (1961);
A Legião Estrangeira, contos e crônicas (1964);
O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil (1967);
A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil (1969);
Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance (1969);
Felicidade de Clandestina, contos (1971);
Água Viva, romance (1973);
Imitação da Rosa, contos (1973);
A Via Crucis do Corpo, contos (1974);
A Vida Íntima de Laura, literatura infantil (1974);
A Hora da Estrela, romance (1977);
A Bela e a Fera, contos (1978).
Olga Mongenot